A força da mulher no MST

Marisa Luz é professora, moradora do assentamento Rodeio. Casada com um importante líder do MST.

Por: Janaína Oliveira

A luta

Vocês sempre fizeram parte do MST, qual que é a principal função do MST?

Como vocês sabem, o MST é o movimento social da luta pela terra. Foi fundado no ano de 1984, organizando os trabalhadores sem terra para a luta e a reivindicação da conquista da terra, e mais do que isso, a luta pela reforma agrária é uma questão muito profunda, vamos dizer assim, do que somente a luta pela terra. O fato de você conquistar um pedaço de terra não significa que você conquistou a reforma agrária. Então, a gente fala que a reforma agrária hoje ainda é o entrave do Brasil.

A concentração da terra, do latifúndio, um dos grandes, não só atrasos, mas entraves no desenvolvimento do Brasil. Então, o MST nasce e ele é fruto de um contexto histórico de resistência e de luta dos trabalhadores pra conquista da terra e pra reforma agrária, é um pouco nesse sentido e por conta disso que vários trabalhadores se inserem nesse processo. Como vocês sabem, já atuava desde a minha infância e faço parte desse processo de luta pela terra, junto aos meus pais no Rio Grande do Sul. Desde esse período da minha infância que eu já transito nesse contexto de luta pela terra junto com os meus pais.  O MST, sobretudo na década de 90 se espalha por vários estados no Brasil e no ano de 1990 e 1992 ele realiza as primeiras ocupações no Pontal do Paranapanema. Uma região de grande concentração de terra pública grilada.

Toda essa trajetória de luta, onde o MST passa a articular e organizar esses trabalhadores também traz pro cenário da região, pro contexto, pro território do Pontal, um contexto de intensas lutas e repressão ao mesmo tempo. Vários estudos têm mostrado que a década de 90 foi uma década de muita resistência, muita luta concentrada na luta pela terra na região. Foi um período de diversos conflitos agrários na região, então é nesse cenário da década de 90, onde emerge vários acampamentos e também vários assentamentos, onde também na região se conquistou através da luta do MST e dos trabalhadores a conquista de inúmeros assentamentos na região.

No município de Mirante, por exemplo, é onde mais se concentra acampamentos no Brasil. Têm uma referência no número de assentamentos. Assim como no município de Presidente Bernardes, outros municípios que eles então, a década de 90 foi uma explosão, não só de lutas, mas também de conquista de assentamentos. Então é nesse processo vamos dizer assim que emerge que a gente consegue avançar na conquista também dessa área aqui que é o assentamento do município de Presidente Bernardes. Então, o MST tem sim um papel fundamental na organização dos trabalhadores em torno da luta pela terra.

Eu acredito que sem a presença do MST na região, certamente nós não teríamos um contexto grande de ação de assentamentos, como é o caso aqui do Pontal do Paranapanema, então sem dúvida cumpriu um papel relevante, importantíssimo ali no contexto da criação de inúmeros de assentamento, colocando o Pontal do Paranapanema num cenário muito importante, porque hoje o Pontal do Paranapanema é visto como uma das regiões de maior concentração de assentamentos do Brasil.

A conquista
Quais foram às dificuldades quando vocês ganham o lote no assentamento Rodeio?

Em relação ao assentamento Rodeio presente no município, tem uma relevância importante. Muitos de nós, filhos de assentados, tivemos a oportunidade de estudar e fazer também outros estudos sobre o assentamento. Então assim com a chegada e a instalação do assentamento, vêm também os desafios, não só da organização, da produção, que também foi grande desde o começo, o assentamento contou com algumas iniciativas de grupos coletivos. Quando foi dividido, as famílias foram morar direto nos lotes e outras poucas famílias continuaram nas agrovilas. Aí tem toda a história de “porque agrovila?”, “porque a maioria foi pro lote?”. O projeto de energia do ITESP foi pro lote e não veio para as agrovilas, então imagina ficar numa situação sem água, sem energia elétrica. Agora é muito difícil, na época, a maioria das famílias migraram para os lotes no começo do assentamento e claro, juntou todos esses desafios da produção e também uma das preocupações logo no inicio foi com a educação, que motivou as discussões, não só junto ao ITESP, mas com às famílias para a necessidade de construir a escola no assentamento.

Há uma demanda forte também aqui no assentamento, onde foi vista logo no começo a necessidade de construir uma escola. Havia esta avaliação das famílias da distancia do deslocamento das crianças até Nova Pátria. Nesse sentido, a comunidade passou a se organizar e reivindicar junto à prefeitura uma escola para o assentamento. Isso também se deu a partir dos primeiros anos de assentamento. No assentamento Rodeio então, a demanda da produção e a demanda da educação sempre permaneceram presentes com as famílias.

O Itesp sempre esteve presente desde a demarcação do assentamento, é claro que com limites, pelo menos há uma avaliação de que o Itesp como instituição poderia ou deveria atuar com mais relevância, sobretudo, na organização das políticas publicas no assentamento.

A luta hoje nos assentamentos
Qual sua opinião sobre as condições de vida de um assentado nos dias atuais?

Uma das grandes dificuldades que os assentados enfrentam hoje é a ausência dessa política publica efetiva. Nós temos um potencial de grupo produtivos de mulheres nos assentamentos. Temos um potencial de organização da juventude dentro dos assentamentos, bastante jovens que acabam tendo  pouca perspectiva porque há uma ausência. Não se considera, sobretudo, a juventude rural nas políticas publicas de viver. Então isso é um limitante, porque aí acaba que o jovem vai desanimando, querendo migrar pra cidade, na ilusão de que vai encontrar a solução. O que a gente vê são ações muito pontuais, não são políticas, são programas pontuais, por exemplo, nós tivemos o PRONATEC, que é uma ação bem especifica, bem pontual, mas que de fato ela não atinge uma qualidade necessária. Algumas ações, por exemplo, nós, a partir da organização dos assentados, procuramos desenvolver a escolarização de jovens e adultos. Porque aqui a gente vivencia esse problema, assim como nós outros demais assentamentos passam por um processo e um contexto do analfabetismo. Temos muitos casos.

Esse tema da escolarização pros assentamentos é bastante preocupante. Então nós buscamos desenvolver ações em torno da escolarização, da alfabetização de jovens e adultos, mas são muito assim, ações pontuais, é isso que eu queria chamar atenção. A grande questão que se coloca para o público assentado hoje eu imagino pra reforma agrária é justamente a ausência da qualidade de políticas. Isso desde aqui do assentamento Rodeio, todas as famílias, como os demais assentamentos do município de Presidente Bernardes. Há também uma avaliação de que os assentados se sentem abandonados pelo poder publico municipal, eu tenho bastante concordância, ainda há essa ausência no diálogo com o poder municipal em termos também de projetos, de ações, mesmo que sejam pontuais, aqui pros assentados.

MARISA DE FÁTIMA LUZ

ASSENTAMENTO RODEIO LOTE: 12

DATA DA ENTREVISTA: 11/07- 14h00

MEIO: Pessoalmente (Uso do gravador)

A cultura sempre esteve presente nos acampamentos, durante ocupações, todos se reuniam para cantarolar cantigas que traziam as lutas em suas frases:

 

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