CONCORRÊNCIA E NOVOS HÁBITOS AMEAÇAM, MAS AS TRADICIONAIS FEIRAS LIVRES RESISTEM

Em tempos cada vez mais competitivos, as feiras livres ainda atraem grandes públicos. Mais do que uma atividade comercial, elas representam uma tradição ligada ao lazer e a família e que guarda grandes histórias.

Por: Igor Gelako, Lays Mareco, Maicon Santana, Nayene Furmigare e Rafael Barbosa

Uma troca de olhares entre bancas na feira e eis que duas delas se tornam uma só. Lá se vão quinze anos de casamento. Essa é a história de Tatiane Miyke, de 32 anos e Anderson Martins, de 34 anos, ou simplesmente Tati e “tiozinho” como são conhecidos entre os amigos feirantes.

De cima de um caminhão tiozinho vai selecionando frutas e legumes, os passando para caixas que mais tarde irão reabastecer as bancas. De tempo em tempo, algum conhecido lhe acena ou lhe dá um grito, no que ele prontamente responde sempre simpático. Em outros momentos, ele faz brincadeira com algum feirante vizinho. De lá de cima ele observa o movimento em sua banca, mas seus olhos sempre acompanham alguém especial, a sua bela esposa Tati.

Enquanto o marido cuida do serviço pesado, Tati fica na linha de frente, atendendo os fregueses na banca, quase sempre mais de um ao mesmo tempo. Cuida ainda do caixa e coordena a equipe, indo de um lado ao outro, sem parar por um minuto. O ritmo é frenético, mas o clima é leve, para cima. Assim é o dia a dia do casal que praticamente se casou na feira.

Os pais de Tati trabalharam a vida toda na feira de Presidente Prudente. Os pais dos pais dela também. Já bem pequena ela ajudava o resto da família nas bancas. “Nasci e fui criada na feira, então eu faço por amor, não me imagino em outra profissão” conta Tati com um largo sorriso no rosto antes de atender mais um freguês.

Como amor gera amor, o de Tati pelo seu trabalho como feirante lhe guiou até o amor de sua vida. Foi na feira que ela conheceu o homem que escolheu para casar e ter filhos. Tiozinho foi trabalhar lá aos dezoito anos. Ele e Tati trabalhavam em bancas diferentes, não trocavam uma palavra, mas entre a correria do dia a dia os olhares dos dois viviam se encontrando.

Tiozinho ainda tentou deixar as bancas para ir buscar outra forma de ganhar a vida, mas não teve jeito, aquele era o seu destino. Seus planos não deram certo e ele teve de voltar. Nesse retorno, acabou indo trabalhar na banca de uma tia de Tati. A partir daí o casal finalmente se aproximou. Em meio a frutas, verduras e legumes, pintou o clima e acabou rolando.

Tiozinho e Tati se casaram, tiveram filhos e hoje com quinze anos de casamento, como não poderia deixar de ser, eles seguem na feira. Por mais sonhos que tenham, não pensam em deixá-la. Hoje eles possuem banca própria e trabalham todos os dias. “O dia em que eu não venho é como se eu não me sentisse bem”, alega Tiozinho.

Assim como Tati e Tiozinho, quase todos os que trabalham na feira trazem na memória algumas boas lembranças deste universo. É um ambiente que guarda muitas histórias de amor, de família, de lutas e conquistas. Um trabalho que ultrapassa gerações e que proporciona encontros e relacionamentos diversos. É tradição pura!

FEIRA TODO DIA

A feira livre enquanto atividade comercial segue proporcionando o sustento de milhares de famílias. Só em Presidente Prudente, segundo a Sedepp (Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Presidente Prudente), acontecem ao longo da semana 26 feiras livres que são realizadas em locais, dias e horários diferenciados. Todo dia você encontra uma feira em algum bairro da cidade.

Em Prudente ocorrem ainda mais três feiras, que são conhecidas como “feira da lua”, onde os próprios agricultores comercializam os seus produtos do hortifrutigranjeiro diretamente para o consumidor final. Nessas feiras acontecem ainda atividades culturais, artesanatos e barracas de alimentação.

Carlos Alberto Machado, diretor do Departamento de indústrias da Sedepp, explica que a feira da lua conta com a ajuda da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (Cati), do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), do Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp), bem como Associação dos Produtores Rurais e Associação de moradores do bairro.

TRABALHO DURO

A rotina desses trabalhadores não é nada fácil. A correria é constante. Tiozinho e Tati, por exemplo, trabalham todos os dias em feiras diferentes. Às quartas-feiras e aos domingos, montam sua banca em Presidente Venceslau. Já no resto da semana, atendem nas feiras de Presidente Prudente onde moram. O descanso fica para as segundas-feiras.

O casal, assim como centenas de trabalhadores da feira, está acostumado a levantar muito cedo. “Acordar com o galo cantando”, como costumam dizer os mais antigos. Tiozinho, aos finais de semana, conta que às duas da manhã já está de pé. Durante a semana, ele e a Tati se permitem dormir um pouquinho mais e acordam entre 5h30 e 6h da manhã, isso porque preferem atender nas feiras do período da tarde, onde segundo Tiozinho, o movimento é melhor.

“Feirante não dorme, não tem fim de semana. Trabalhamos no sítio, plantamos, fazemos a colheita e vamos para a feira e da feira de volta para o sítio. É isso o que eu faço há mais de 55 anos”, diz Antônio Braguin, de 68 anos, agricultor e feirante da feira da lua, que ocorre às terças-feiras, das 18h às 21h00, localizada na Avenida Vereador Aureliano Coutinho, no bairro Jardim Alto da Boa Vista em Presidente Prudente.

Mas engana-se quem pensa que os feirantes têm algo para reclamar. Pelo contrário, a feira para eles é bem mais que um simples trabalho. “A gente tem planos, mas não quer sair daqui. A gente acaba conhecendo as pessoas, fazendo amizades, então a gente gosta”, explica Tiozinho.

Braguin compartilha da mesma opinião que tiozinho. Ele conta que já trabalhou em inúmeras feiras de Presidente Prudente e que já apareceram muitas oportunidades de deixar a atividade, mas ele não consegue porque faz o que faz por amor. Sentimento que parece estar presente em todos que trabalham na feira.

AS DELÍCIAS

Não tem como falar de feira e não falar das comidas típicas, ou pelo menos de uma em especial, o famoso pastel de feira. Hoje em dia é muito comum que as pessoas visitem a feira não para comprar verduras e legumes, mas para passear e se deliciar com as comidas típicas. Tem tapioca, churros, doces e salgados em geral, mas o pastel ainda é imbatível no gosto popular. Já na primeira banca é possível sentir o aroma no ar.

É o caso de dona Maria Inês, de 68 anos, que há pelo menos dez freqüenta a tradicional feira da Avenida Manoel Goulart em Prudente. Isso desde quando se mudou para a cidade. “Como meu pastel de carne com queijo e tomo meu café com leite cheio de açúcar todos os domingos”, diz sorrindo.

São muitos os trailers em uma única feira atendendo ao mesmo tempo e todos estão sempre cheios. É possível encontrar famílias inteiras em uma mesa saboreando um pastel.

Dona Maria confessa que em relação aos outros produtos, ela anda preferindo os supermercados, pois já não vê mais tanta diferença de preço e qualidade. “Os produtos antigamente eram mais bonitos e custavam menos, mas hoje é tudo igual. Pelo menos no mercado eu consigo passar cartão”, responde ela, que garante que compra algumas frutas e verduras, mas que isso é uma desculpa para poder ir comer seu sagrado pastel de todo domingo.

Assim é a feira, não só uma atividade comercial destinada a vender produtos, mas também um momento de lazer, uma atividade social e um espaço cultural.  É uma tradição, faz parte da identidade do povo brasileiro, com todos os seus hábitos e costumes.

FUTURO

Muito já se discutiu sobre o futuro das feiras livres, se elas sobreviverão a tantas mudanças e novos cenários. Diante do que se vê, elas não estão nem perto de acabar. Elas ainda se mostram de grande importância para o público e prometem continuar ajudando construir histórias e firmar laços familiares, de amizade e de amor. Todo mundo carrega consigo alguma história ou alguma lembrança ligada a alguma feira. Qual é a sua?

ONDE VOCÊ ENCONTRA UMA FEIRA?

E para você que vive em Presidente Prudente e quer saber qual a feira mais perto de você ou quer conhecer uma feira diferente, e para você que mora fora, mas que quando visitar a cidade quiser ir a uma das feiras, na tabela abaixo você encontra o endereço, os horários e os dias em que elas acontecem.

AS DELÍCIAS

LOCAL

ENDEREÇO

DIA

PERIODO

HORÁRIO

1

Vila Indústria

Rua Pedro de Toledo

Terça

Manhã

06:15 às 12:00

2

Pq. Novo Alvorada

Rua João Salvador

Terça

Manhã

06:15 às 12:00

3

Rs. Servantes

Rua João Martines Perez

Terça

Tarde

16:00 às 22:00

4

Jd. Brasil Novo

Av. Francisco Barbosa da silva

Terça

Tarde

16:00 às 22:00

5

Maré Mansa

Rua Henrique O. De Melo

Terça

Tarde

16:00 às 22:00

6

Jardim Paulista

Rua Gabriel Otavio de Souza

Quarta

Quarta

Manhã

06:15 às 12:00

7

Vila Formosa

Rua Túlio Cechetti

Quarta

Manhã

06:15 às 12:00

8

Jardim Maracanã

Rua Arlindo Pereira Alves

Quarta

Tarde

16:00 às 22:00

9

São Matheus

Rua Meire Pereti Avelino

Quarta

Tarde

16:00 às 22:00

10

Jardim Panoramico

Rua José Quirino da Silva

Quarta

Tarde

16:00 às 22:00

11

Vila Marcondes

Rua Benjamim Constant

Quinta

Manhã

06:15 às 12:00

12

Cohab

Rua das Palmeiras

Quinta

Manhã

06:15 às 12:00

13

C.H. Ana Jacinta

Av. Raimundo Nonato de Lima

Quinta

Tarde

16:00 às 22:00

14

J. Humberto Salvador

Av. João Domingos

Quinta

Tarde

16:00 às 22:00

15

Pq. Girassóis (São João)

Rua José Pereira Junior

Quinta

Tarde

16:00 às 22:00

16

Vila Dubus

RuaGeneral Ozório

Sexta

Manhã

06:15 às 12:00

17

Jardim Planalto

Rua Pierre Almeida

Sexta

Manhã

06:15 às 12:00

18

Jardim Vale do Sol

Rua Irene Fautino

Sexta

Tarde

16:00 às 22:00

19

Jardim Novo Bngiovane

Rua Cerata Donzela Bongiovane

Sexta

Tarde

16:00 às 22:00

20

Cambucí

Rua Salvador Bongiovani

Sexta

Tarde

16:00 às 22:00

21

Vila Tabajara

Rua Aquimerdes Sanches

Sábado

Manhã

06:15 às 12:00

22

Jardim Estoril

Rua Francisco Trévia

Sábado

Manhã

06:15 às 12:00

23

Cecap

Rua das Flores

Sábado

Manhã

06:15 às 12:00

24

João Domingos Neto

Rua Maria de Menezes Alcântara

Sábado

Tarde

16:00 às 22:00

25

Centro

Av. Manoel Goulart

Sábado

Tarde

16:00 às 22:00

26

Centro

Av. Manoel Goulart

Domingo

Manhã

06:15 às 12:00

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