CONSUMO EM EXCESSO VICIA! QUANDO É PRECISO PARAR?

Você já parou para pensar que seguir séries na televisão, praticar esportes, tomar remédio quando não se sente bem, pode não ser algo tão saudável assim? Pois nesta reportagem você vai conhecer exemplos de pessoas que passaram dos limites.

Por: Andrei Ribeiro, Gabriel Silva, Gabriel Torres, Janaína Oliveira, Mariane Ferreira e Tamires Martins

Acordar às 9h30 e já ligar o celular para ver as notificações, escovar os dentes com o celular na mão, fazer um copo de leite e sentar no sofá, ligar a televisão conectar o Netflix e responder mensagens no WhatsApp, rotina que segue durante todo o dia na vida do adolescente Gustavo Lemos, de 17 anos.

Guto, como é chamado pela maioria, concluiu o ensino médio no fim de 2015, e antes de ingressar em uma universidade decidiu esperar pelo segundo semestre de 2016, para tentar entrar em uma instituição federal. Seu sonho é cursar Engenharia Civil, mas enquanto não inicia a faculdade, o adolescente passa seus dias quase que sem sair de casa só na frente da televisão e com o celular na mão – o tempo todo.

Gustavo assiste maratonas de séries com frequência e, para ele é normal passar de nove a dez horas em frente à TV. “Normalmente quando eu começo assistir uma série e me interesso, eu fico instigado a saber o que acontece, e essa ansiedade acaba com qualquer pessoa”.

Outro problema que ele enfrenta é conciliar uma série com a outra, pois atualmente acompanha 17 séries. Para a mãe dele, Valdirene Lemos, de 39 anos, chega a ser preocupante o fato do filho passar tanto tempo assistindo séries. “Quando ele lia, eu não me incomodava tanto, pois ler ajudava na escola, mas não vejo o mesmo benefício com as séries, pois ele já se prejudicou com isso” afirma.

Na escola o adolescente nunca teve problemas com o boletim, mas costumava deixar tudo para a última hora. “Com notas não, porque eu sei que minha mãe iria me matar, mas em relação a trabalhos eu costumava fazer tudo na véspera, aí me sobrecarregava”.

A outra preocupação dos pais é algo comum para a maioria dos pais de adolescentes: o celular. Gustavo se dispersa no celular e não dá atenção a mais nada. “Tem hora que tem que gritar com ele porque ele fica com o celular na mão e esquece do mundo”, conta a mãe.

Como tudo o que é demais não dá certo, o adolescente tem tido alguns problemas. “Eu já uso óculos e mesmo assim tem hora que cansa a visão, e quando fico muito no celular tenho muita dor nas costas, nos meus dedos”.

A fisioterapeuta Márcia Rafael explica que quando a utilização do celular normalmente está associada a posturas incorretas, que podem gerar problemas como: tendinite e dores no corpo.

No entanto há alguns exercícios que podem ser feitos para sanar esses problemas. “Tem alguns bem fáceis. Por exemplo, na palma da mão pode fazer os movimentos das primeiras falanges, onde com as pontas dos dedos você movimenta as mãos, só as pontas dos dedos várias vezes”, explica a fisioterapeuta.

Gustavo não pratica nenhum exercício para melhorar a postura. “Do jeito que eu deito eu fico, não me preocupo com isso”.

Para ele, as séries não são um vício são apenas momentos onde ele pode se desligar do mundo real, para relaxar.

Para a psicóloga Alana Assugeni, ele é um dependente de tecnologia, isso acontece quando adolescentes se sentem sozinhos e frustrados e não procuram nenhuma atividade, seja ela física ou outra que possa tirá-lo da abstração.

“Atividades físicas demais também são considerados vícios, mas para ocupar a cabeça pode-se fazer qualquer coisa, trabalhos voluntários são ótimas opções, pois além de exercitar o cérebro você se relaciona com outras pessoas”, explica a psicóloga.

Falando em atividade física, Vinicius Neves, personal trainer, não há vê mais como um hobby, e sim como peça chave de sua vida. Ele treina duas vezes por dia, de manhã faz musculação e à tarde treina CrossFit, um tipo de treinamento de força e condicionamento físico usado em muitas academias de polícia, grupos de operações táticas como o SWAT. Nos fins de semana ele não descansa, vai à academia, joga vôlei e quando não faz algo, arruma um tempo para correr no parque.

Ao contrário de Gustavo, Vinícius admite seu vício, para ele é necessário treinar todos os dias. “Eu sou viciado em endorfina, eu fico muito mal quando não treino, porém eu sempre arrumo tempo, é preciso fazer algo, isso já é parte da minha vida”.

Outra característica dele, é saber o momento de parar. “Sou extremamente consciente do meu estado físico e mental tem dias que o corpo pede para descansar. É muito importante que nós respeitemos esse limite, apesar de, às vezes o psicológico ficar pedindo pra ir praticar algo, eu diminuo a atividade ou nem faço, mas não consigo fazer isso, por mais de um dia.”

Vinícius considera seu vício saudável, pois mesmo ele precisando disso todos os dias, ele só se abastece de atividades físicas, não toma nenhum tipo de medicamento para isso.

Um outro “vicio” que pode ser perigoso é a dependência de medicamentos. Para algumas pessoas, a automedicação é algo bem comum para pequenas complicações do dia a dia, como uma dor de cabeça, enjôo, e até mesmo uma gripe.

A farmacêutica Jullyane Sorrilha explica que tomar remédios sem uma orientação médica é a coisa mais comum que existe, porém por mais que seja algo natural, muitos se esquecem dos riscos que isso pode causar.

“A falta da procura de um especialista pode fazer com que o paciente procure um medicamento não adequado para seu problema exemplo: toma um remédio para dor de cabeça, quando no caso é a pressão arterial que está descontrolada”, explica.

Segundo o clínico geral Lincoln de Holanda, o maior problema está em tomar antibióticos sem prescrição médica, podendo gerar bactérias pelo corpo.

“As pessoas se medicam de maneira equivocada, o que pode causar sérios danos a saúde, fazendo com que em vez do remédio cure uma doença, acabe acarretando outros problemas, espalhando assim bactérias pelo corpo”, ressalta.

O jovem Luiz Augusto Batista, de 20 anos, é uma prova viva disso. Desde a infância toma remédios sem prescrição médica e pior, nem consultava sua mãe para saber se podia tomar ou não.

“Quando eu era menor eu tomava bem mais, hoje eu dei uma controlada, porém quando eu sinto alguma dor, eu vou lá e tomo. Às vezes nem vejo qual remédio é, não tem essa preocupação”, afirma.

Entre os remédios que ele mais toma sempre estão os de dores de cabeça, mesmo quando, não sente a dor. Porém já tomou remédio de pressão de seu avô, e calmante da mãe de uma amiga. “Nunca passei mal, mas quando eu tomei calmante eu quase dormi uns dois dias seguidos, isso foi o pior que me aconteceu”.

Luiz explica que não procura uma orientação médica por preguiça e porque tem medo de descobrir que possui alguma doença.

Ele admite seu vícios por remédios, ele afirma que tem necessidade de tomar alguma coisa diariamente.

A PRESSA É INIMIGA DA SAÚDE

É, esses vícios que você leu até agora, por mais que fujam da normalidade, com certeza já ouviu falar alguma vez. O que você talvez não saiba, é que na sua rotina diária também pode estar um vício muito comum da atualidade: a pressa. Isso mesmo. A cada dia as pessoas correm mais e mais, nem sempre elas sabem o por quê disto.

Correr dia e noite, não parar um segundo, ficar o tempo todo ligado, esse é o mal das pessoas que tem o vício da pressa.

Segundo o doutor em Filosofia Divino José da Silva, a pressa tira das pessoas a atenção, e impõe um ritmo que nem sempre se tem consciência. Como no dito popular, a pressa é a inimiga da perfeição.

“Não significa que estaremos livres da pressa, mas de qualquer forma dependendo dos contextos em que estivermos, a pressa sem dúvida pode ser prejudicial à nossa vida. Por exemplo, estudar, ler um texto, uma coisa é ler um texto com calma, com cuidado, parar deixar a imaginação percorrer a leitura de um texto lendo devagar e outra coisa é você ler um texto de forma rápida e não conseguir abstrair do texto aquilo que é essencial”.

A estudante Débora Cano, de 23 anos, conta que passou por períodos frustrantes causados pela pressa. Era o emprego, os trabalhos da faculdade, tentava dar conta de tudo e não conseguia fazer nada. “Ficava muito nervosa, não conseguia prestar atenção na faculdade, sem contar que sentia dor no peito, falta de ar, só passava nervosos, não tinha vontade de fazer absolutamente nada”.

Débora teve que começar a tomar medicamentos para controlar a ansiedade e voltar a produzir como antes. Hoje ela já consegue ter mais atenção na aula e organizar seu tempo, mesmo trabalhando durante todo o dia e estudando a noite, ela coloca objetivos para que possa cumprir tudo.

André Grid, de 34 anos, também já fez tratamentos para controlar a ansiedade durante três anos. Desde a infância ele é hiperativo, e com o tempo isso foi piorando. Ao contrário de Débora, ele acha que é necessário a obsessão pela pressa, pois ele se sente bem mais disposto a conciliar tudo que tem em seu dia a dia. Hoje, além de trabalhar em dois empregos, também é pai, e seu maior problema é que pra dar conta de tudo, fica sem dormir. “Tem pouquíssimo tempo que meu filho nasceu, e eu fiquei quatro dias seguidos sem dormir, então acabei indo parar no hospital e fiquei dopado”

Segundo Divino, no nível em que as pessoas se tornam viciadas pela tecnologia será praticamente impossível conseguir viver sem ela, por conta das facilidades que ela proporciona.

“Estaremos cada vez mais controlados por esses aparatos, não tenho duvida, seremos muito mais mediados, nossa relações mediadas, mais do que hoje por essas tecnologias. Não tem uma dimensão do que virá, nós estamos tão integrados a elas que certamente vão intensificar muito mais as formas de controle”, afirma.

Num futuro não tão distante, até mesmo as pessoas que se dizem alheias à tecnologia vão acabar se render a elas, pois se não conseguirem se adequar às modernidades, não vão ter opção a não ser acompanhar as mudanças tecnológicas, como diz o ditado: se não pode vencê-los junte-se a eles.

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