João Victor Coutinho

O meu sonho é jogar futebol!

♫ Bola na trave não altera o placar
Bola na área sem ninguém pra cabecear
Bola na rede pra fazer o gol
Quem não sonhou em ser um jogador de futebol? ♫

Por: João Victor Coutinho, Luan Buzzo e Paulo Gomes

João Victor Coutinho

O sonho de ser jogador de futebol é defendido com garra e determinação por jovens de Presidente Prudente

Este trecho da música “É uma partida de futebol”, composta por Samuel Rosa e Nando Reis, expõe uma das paixões mais alucinantes do brasileiro: o futebol. A pergunta que fecha o trecho da música é o que move crianças, jovens e suas famílias que apostam num único sonho.

Muitas crianças que hoje sonham com um futuro glorioso dentro do esporte mais popular do mundo irão passar por vários obstáculos para alcançar este objetivo como as dificuldades financeira, social e estrutural.

Vitória Pessin Vitório, 12 anos, sonha um dia ter um currículo tão extenso como o de Marta Vieira da Silva, considerada a melhor jogadora de todos os tempos e a atual camisa 10 da seleção brasileira. Para atingir seu propósito, Vitória já superou, principalmente, a desconfiança da família.

A mãe, Thais Pessin Vitório, no início, não gostou muito da ideia da filha começar a jogar futebol. Inclusive convenceu ela a fazer balé e karatê. “Tentamos outros esportes que eram mais normais para as meninas. Tínhamos medo da discriminação por parte da sociedade”, afirma a mãe. 

Vitória não se adaptou nem ao balé e nem ao karatê. Ela gosta mesmo é do futebol. Quando os pais foram atrás de uma escola feminina, não encontraram. A solução foi matricular a filha numa escolinha de futebol masculina. Sua presença num ambiente com predominância de meninos transformou a realidade dos técnicos e companheiros de treino. Assim, a entidade passou a oferecer treinos mistos e não unicamente para o público masculino.

Sobre o futuro, planos não faltam para a garota. “Meu sonho é ser a [camisa] número 3 da seleção feminina. Quero jogar na Europa, no Barcelona”. Para este sonho se tornar realidade será preciso convencer o pai. Hoje, Stéfano Rodrigo Vitório, não pensa na hipótese de ver a filha longe de casa. “Quem sabe com uns 30, 40 anos”, ironiza.

Determinação não falta também para Gustavo Bernardo de Oliveira. Hoje, com 13 anos, ele se dedica inteiramente ao sonho de ser jogador de futebol. Com uma rotina exaustante, sua vida é dividida entre treinos, natação, escola e a convivência com amigos e família. Sobre a vida agitada ele diz: “já estou acostumado”.

Acordando todos os dias às 6h da manhã e indo dormir às 11h da noite, Gustavo mantém o desejo de conquistar o mundo. Questionado sobre o que já conquistou com o futebol, ele orgulhoso manifesta que já foi campeão de vários torneios.

Para realizar o sonho de ser goleiro profissional, Gustavo recebe o apoio total da família. A mãe, Andreia Cristina Bernardo, acompanha o filho em todos os lugares, está presente em cada treinamento e busca estar com o filho na maior parte das viagens. Outra ajuda significante da família para o sonho do jovem é a financeira, principalmente nos períodos em que há campeonatos em cidades distantes de Presidente Prudente.

João Victor Coutinho

Importância dos pais

Os pais participam e acompanham os treinamentos dos filhos e filhas

Luan Buzzo

"O futebol é um esporte coletivo e os pais querem que seus filhos se destaquem de qualquer jeito", afirma o psicólogo Ricardo dos Anjos

O psicólogo e doutor em Educação Escolar, Ricardo Eleutério dos Anjos, orienta que é preciso ter cuidado em não transformar os sonhos das crianças em obsessões. Até porque, neste período, troca-se de sonhos muito rápido.

Para o psicólogo, sonhar é essencial para todos os seres humanos, independentemente da idade e do desejo. “É necessário que uma criança experimente e não se prenda a um horizonte pequeno”, afirma o especialista.

Outro motivo que chama a atenção é o fato, em muitos casos, do sonho não ser da criança e sim dos pais. “Muitos adultos tentam atribuir seus próprios desejos aos da criança e acabam exigindo algo dela, mesmo que estes nunca foram da própria criança”, complementa o psicólogo.

O relacionamento com os pais costumam ser complicados para o treinador de futebol e empresário Luciano Marques, 42 anos. Ele é dono de uma escolinha de futebol particular em Presidente Prudente que atende 200 crianças de cinco a 16 anos. “Quando as crianças chegam aqui, temos que cuidar do aspecto de ‘trabalho em grupo’. O futebol é um esporte coletivo e os pais querem que seus filhos se destaquem de qualquer jeito”.

Realidade do futebol brasileiro

No Brasil, segundo dados da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF,  existem cerca de 30 mil jogadores de futebol profissional cadastrados. Porém, apenas 5% trabalham o ano inteiro em uma das 60 equipes que disputam as três principais divisões nacionais. Enquanto outros 4% atuam fora do país.

Com isso, são 2.700 profissionais atuando o ano todo. Para chegar a esse seleto grupo, segundo a CBF, existem cerca de 40.320 jogadores em categorias de base, dividido em 448 times, que sonham em jogar em times maiores.

Disputar a Copa São Paulo, o principal campeonato das categorias de base, é uma grande oportunidade para os jovens. Segundo levantamento da Folha de S. Paulo, em 2010, 1.939 jogadores disputaram a competição. Destes, 82% não chegaram a assinar contrato profissional. Isso mostra a dificuldade de se tornar atleta do futebol no Brasil.

PENEIRA: PORTA DE ENTRADA PARA O COMERCIAL
DE PRESIDENTE PRUDENTE

Arquivo Pessoal/José Carlos

Sonho consumado

José Carlos emocionado após jogar a partida de semifinal contra a Holanda na Copa do Mundo de 1998

A vida de José Carlos de Almeida, 51, começou nas lavouras da região rural de Presidente Bernardes. Zé Carlos, como ficou conhecido, teve o primeiro contato com uma bola depois dos 10 anos. Até então a sua diversão era brincar com as bolinhas de meias feitas pela mãe.

O sonho de ser jogador de futebol permanecia vivo apesar de todas as dificuldades. Até o momento em que Zé Carlos resolveu surpreender. Sem empresário, sem nunca ter participado de uma categoria de base e com 21 anos, ele se tornou jogador profissional.

Isso aconteceu depois dele ter feito um teste no time da cidade de São José dos Campos. Na época, Zé Carlos trabalhava em uma metalúrgica. Ao ser aprovado, ele relata que o sonho estava consumado. “Realizei meu sonho quando fui fazer o teste e passei. Minha carteira estava assinada como atleta profissional de futebol”.

Depois de passar em vários times do interior, em 1997, Zé Carlos foi contratado pelo São Paulo Futebol Clube. No mesmo ano, ele recebeu sua primeira convocação para a seleção brasileira. Seria o ápice da carreira do menino simples que brincava com bolinhas de meia no interior de São Paulo: ele iria defender a camisa verde e amarela na Copa do Mundo.

 

“Copa do Mundo é o ápice de um jogador, é algo tão maravilhoso que não dá nem para explicar. Você representar seu país numa Copa é sensacional”

 

Outro fato de orgulho para Zé Carlos é ter tido a sua primeira lesão muscular só aos 31 anos. “Durante toda minha carreira fui um atleta, nunca usei nenhum tipo de droga, nunca perdi nenhuma noite de sono. Vi muita gente melhor do que eu, porém se perderam durante o caminho”.

Hoje, ele vive com a família em Presidente Prudente, é empresário do ramo da construção civil. Mesmo sendo jogador aposentado, nunca está distante do futebol. Seu amor pelo esporte o fez investir num projeto que vai incentivar outros sonhos: ele está construindo uma escolinha de futebol.

A REVIRAVOLTA DE UM SONHO

FICHA TÉCNICA

Repórteres: João Victor Coutinho, Luan Buzzo e Paulo Gomes
Infográfico: João Victor Coutinho e Paulo Gomes
Fotografia: João Victor Coutinho e Luan Buzzo
Áudio: Jesley Almeida, Luan Buzzo e Paulo Gomes
Cinegrafia: João Victor Coutinho, Luan Buzzo e Paulo Gomes
Edição de textos: João Victor Coutinho, Luan Buzzo e Paulo Gomes
Edição de vídeo: João Victor Coutinho e Luan Buzzo
Edição de imagens: João Victor Coutinho, Luan Buzzo e Paulo Gomes
Layout da reportagem: João Victor Coutinho, Luan Buzzo e Paulo Gomes
Edição final e supervisão: Fabiana Aline Alves