Males do cigarro: doenças e vícios afetam fumantes

Cerca de 1 bilhão de pessoas no planeta são fumantes, em 2018. Estima-se que em 20 anos esse número se elevará para 1,6 bilhão, embora o vício seja uma das principais causas de acidente vascular cerebral e infarto. Fumantes contam suas histórias.

Por: Isabelle Voltareli, Larissa Oliveira, Mariane Pracânica, Taylane Fernandes e Yuri Kaue Aquinno

“Levanto às seis, preparo o café pra família e fumo um cigarro. Dou uma “olhadinha” nas redes sociais e assisto o telejornal. Mais um. Preparo as coisas para trabalhar e quando chego lá, fumo de novo. Quando tenho uma pausa no café – coisa de 15 a 20 minutos – outro. Almoço por volta do meio-dia e mais um cigarro. É o tempo todo… O último é por volta das 22h30, quando vou dormir.”

Essa é a rotina de Maria Luzinete Gerônimo, de 46 anos, que já tentou parar de fumar várias vezes, mas não conseguiu. Ela usa o cigarro desde os 12, por influência de amigos, um dos principais fatores que levam pessoas ao vício.

Luzinete já sofreu de câncer causado pela exposição ao sol e tem medo de ter novamente a doença, só que agora, devido ao tabaco. “Não consigo parar, mesmo sabendo todos os males que ele causa”, conta.

O câncer de pulmão é uma das principais doenças cuja causa pode ser provocada pelo uso do cigarro. Segundo o INCA (Instituto Nacional do Câncer), 90 dos diagnósticos está relacionado ao consumo de tabaco. O pneumologista Guilherme Zimmerer Lorentz, explica que esse tipo de câncer também pode associar-se a fatores genéticos e nem sempre só ao tabaco, porém ele é fator principal.

A busca por saúde e qualidade de vida é o motivo que levam os fumantes a dar um basta no vício. A tatuadora Inara Buchini tem 34 anos e começou a fumar aos 19, e assim como Maria Luzinete, também foi incentivada por colegas, nas festas.

Ela só interrompeu o cigarro durante a gestação e a amamentação. “Eu não tinha interesse em parar de fumar, então quando eu me desvinculei fisicamente do meu filho, eu voltei”. A decisão definitiva foi recentemente, por conta de questões econômicas e de cuidados com a saúde dela e da criança.

E da mesma forma que os amigos foram a porta de entrada para o vício, foi através deles que Inara conheceu uma maneira de “vencer” esse hábito: o cigarro eletrônico. Ao ver amigos que pararam de fumar com o dispositivo, Inara se empolgou com a possibilidade de se livrar do tabaco de uma vez por todas. Mas será que isso resolve?

Ela faz uso do dispositivo há mais de cinco semanas e conseguiu diminuir de 20 cigarros por dia para um a cada dois dias e tem percebido resultados positivos em sua qualidade de vida.

“Senti melhorar o fôlego, a resistência, a voz está menos rouca e a tosse diminuiu”, diz a tatuadora. Inara ainda afirma que não pretende trocar o cigarro eletrônico pelo convencional, pois agora, ela quer parar de vez.

O médico, Guilherme Lorentz, conta que a indústria tem usado o cigarro eletrônico como uma alternativa para cessar o tabagismo, mas faz um alerta.  “Não é o que os médicos indicam e não há estudos que mostrem segurança dos compostos que existem neles. Pelo contrário, pesquisas mostram que há substâncias cancerígenas que não tem quantidade de exposição segura”.

Ele completa o cigarro comum é responsável por muitos males e doenças que quando o paciente apresenta sintomas, já está submetido a elas. “Acidente vascular cerebral, infarto agudo do miocárdio, doença pulmonar obstrutiva crônica e agravo de quadros respiratórios alérgicos como asma, rinite e sem contar nove tipos de cânceres diferentes”, afirma.

O CIGARRO NO BRASIL

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil ocupa o 34° lugar no ranking dos 149 países com maior índice de fumantes, sendo 14 da população do país.

Com a alta dos impostos do cigarro e campanhas de conscientização, o país conseguiu reduzir a porcentagem de fumantes de 29 para 12 em 25 anos. As informações levantadas são de um estudo financiado pela Bill & Melinda Gates Foundation, entre os anos 1990 e 2015.

Em pesquisa do Instituto Nacional do Câncer (Inca), 428 pessoas morrem por dia no Brasil devido ao tabagismo. Os números mostram que 73.500 pessoas foram diagnosticadas com câncer provocado pelo cigarro no ano passado.

Em 2014 a lei antifumo nº 12.546/2011 entrou em vigor no país. Ela proíbe o uso de cigarro em ambientes parcialmente ou totalmente fechados, como hotéis, bancos, restaurantes e bares.

Antônio Albertino Gomes é dono de um bar e lanchonete e conta que a lei antifumo foi a melhor coisa que aconteceu para o seu comércio. “Nunca foi legal fazer o uso do cigarro dentro de um estabelecimento por causa dos alimentos. Como o costume antes era fumar, as pessoas que se incomodavam não podiam nem reclamar.”

Algumas instalações comerciais têm área específica para fumantes. Quando não há, é preciso que o indivíduo se mude a outro local para usar o cigarro. “As pessoas que fumam já decidem se sentar em mesas fora da lanchonete”, finaliza o comerciante.

Maria Luzinete acredita que se as pessoas tivessem bom senso, não seria necessário criar uma lei. “Eu fumo, mas não perto de pessoas que estejam comendo e em lugares fechados, só na minha casa”, completa.