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Cinco jovens de 18 a 24 anos, com no mínimo três perfis em alguma rede social, falam sobre o feminismo, a hashtag #BelaRecatadaDoLar e o lugar da mulher

Por: Ana Luisa

Lugar de mulher é esquentando a barriga no fogão e esfriando na pia, dizem ainda alguns remanescentes do pensamento de que o papel da mulher é apenas e exclusivamente trabalhando cuidando da casa e criando os filhos. Pois bem, entre o fogão e a pia as mulheres agora contam com um computador ou smartphone com acesso à internet e hoje elas dominam as redes sociais.

A Nielsen IBOPE é líder no quesito avaliação do comportamento dos internautas em todos os continentes e de acordo com a pesquisa, 76,1 milhões de pessoas usam o smartphone com acesso à internet no Brasil. E as mulheres ficam mais online. No segundo trimestre de 2015, elas chegaram a 52 porcento dos usuários de smartphones. A presença na casa de computadores com internet também cresceu 10 vezes, desde 2000. O maior salto ocorreu em 2004, quando os brasileiros e brasileiras foram apresentados ao dinossauro das redes sociais, o Orkut.

Ser bela, recatada e do lar, como o perfil descreve a mulher de Temer, é fantástico. Ninguém em sã consciência atiraria uma pedra contra quem quer se dedicar ao marido, criar os filhos e administrar todas as responsabilidades que uma casa impõe. Pelo contrário, são todas funções honradas.

O problema não é se a mulher dá conta de um dia cansativo de trabalho, seja no lar ou fora dele. “Eu acho que o problema está na hipocrisia. (A mulher) faz o rótulo, mas no fundo gosta de ir para a balada”, conta Priscila Trindade, 23, que aprendeu com a experiência que se sente melhor conciliando os dois, o lado caseiro e o lado que ama passar tempo com os amigos.

O machismo surge quando o homem impede a mulher de escolher o caminho que a torna realizada e quando há a imposição de um padrão a ser seguido. Como é o padrão do belo.

Adbeel de Freitas Miranda, 23, alega ser o típico homem racional de exatas e faz uma ressalva sobre o estereótipo que a palavra “bela” pode carregar. “O conceito de bela é muito diferente para as classes sociais. É difícil para uma dona de casa de classe social médio-baixa se manter nos padrões de beleza impostos pelas revistas e modelos.” E quanto ao conceito de “ser recatada”, o estudante de Engenharia de Produção conta que para ele “é uma questão de respeito pessoal. A mulher que se dá ao respeito pode ser digna do título de recatada.”.

Também com 23 anos, Isabella Nakano, concorda com o Adbeel. Apesar de descendência oriental, Isabella não têm pais que seguem os costumes japoneses. Com 3 piercings (smile, no nariz e um no septo) e um alargador, ela diz que os pais não gostam, mas também nunca criticaram. “O respeito de uma mulher está nas atitudes onde ela toma para a sociedade, onde ela possa ser quem ela quer ser, o respeito está no olhar de terceiros, que não devem julgar a roupa ou a opção sexual da pessoa, o respeito está na educação e no modo de agir no dia-a-dia.”, explica sobre o que é se dar ao respeito.

Isabella também arrisca uma análise relacionando que “do meu ponto de vista, mulheres recatadas seriam as mulheres mais tradicionais à cultura religiosa”. Ela não está longe da verdade. Utilizando a ferramenta hashtagify.me pode-se descobrir quais as palavras-chave mais relevantes relacionadas a fatídica #BelaRecatadaDoLar: catecismo, sagrada família, Nossa Senhora, Virgem Maria e Jesus Cristo.

Com 18 anos, a jovem Maria Eduarda Navarro acaba de chegar ao Brasil. Brasileira sim, mas estava na terrinha do rei em Portugal desde os seus 11 anos. Duda, como é chamada pelos amigos, acredita que a atuação das mulheres que lutam pela igualdade ficou mais presente nas redes sociais e que o feminismo ganhou mais força e mais adeptos. Mas ela não. “Não sou feminista”, e logo depois reitera Eduarda, “só para deixar claro, não sou feminista, nem machista”. Ao ser questionada sobre isso, a editora de conteúdo em inglês para e-commerce de uniformes de futebol, deu a seguinte resposta: “As feministas querem direitos iguais, mas ao mesmo tempo querem licença porque ficam grávidas. Machistas acham que as mulheres devem ficar em casa e não trabalhar. Acho que não podemos ter os mesmos direitos. Não sei como explicar, mas acho que tudo ao extremo é ruim”.

Mais recentemente, a reportagem da revista Veja sobre a esposa de Marcela Temer foi o estopim de protestos nas redes sociais. Até o fechamento desta matéria, uma pesquisa rápida no Facebook pela hashtag “BelaRecatadaDoLar” já somavam aproximadamente 100.000 resultados.

Mayara Silva Leite, 24 anos, acredita que os movimentos feministas ganham mais força “com a televisão e a internet, principalmente as redes sociais, porque as informações se dispersam com mais facilidade”. E embora ela nunca tenha usado nem essa, nem outras hashtags adotadas pelos movimentos feministas, “porque não sou muito de me expressar por rede social” está amplamente de acordo com elas. “Acredito em direitos iguais, independente do sexo. Todos tem capacidade de conquistar o que desejam, seja mulher ou homem. Não sei se isso me torna feminista, mas tudo bem.”