TIMIDEZ: INFLUÊNCIA DO AMBIENTE OU TRAÇO DE PERSONALIDADE?

Parece ser coisa de outro mundo, já que o ser humano é por natureza um ser sociável, mas 90 das pessoas dizem ser tímidas de alguma maneira em alguma parte da vida, em níveis diferentes. Vamos entender tudo isso?

Por: Aline Toledo, Ednéia Pedroso, Evans Fitz, Jaqueline Galdino, Lucas Fernandes e Thalita Cortez

Antônio é o tipo de pessoa que não consegue ser o centro das atenções. Em suas festas de aniversário era forçado ir à frente para receber os parabéns. “Só ia para agradar os convidados porque minha vontade era zero.” Com 14 anos e cursando o 1° ano do Ensino Médio, ele vê sua timidez como um problema.

Yasmin tem apenas seis anos e já é tão tímida que quando, por algum imprevisto, não faz uma pesquisa proposta pela professora prefere faltar à aula para evitar que ela a questione.

A pressão para ser extrovertido é algo cultural, mas o Luiz Fellipe Nunes de 15 anos, por exemplo, não sente obrigação nenhuma de falar com as pessoas. “Não me incomoda ser assim. Até falo com as pessoas, mas elas precisam chegar até mim”.

Timidez parece ser coisa de outro mundo já que o ser humano é por natureza um ser sociável, mas 90 das pessoas dizem ser tímidas de alguma maneira em alguma parte da vida, em níveis diferentes é claro, mas tímidos como o Antônio, a Yasmin ou o Luis Fellipe calculam qualquer movimento. Temem ser chacotas, parecer bobos, passar vergonha em público e, como consequência, ficam inseguros.

De acordo com a psicóloga Lourdes Aparecida de Oliveira Cunha, a timidez é um traço de personalidade que pode ser vista desde a infância.  Não pode ser encarada como um defeito. “É algo normal, mas pode trazer consequências futuras, por isso requer a atenção dos pais para que a criança não cresça com dificuldades de socialização na vida adulta”, comenta.

A mãe da Yasmin, Marcia Regina Costa Cardoso, é professora e diz que depois que partilhou o problema da timidez da filha com a escola todos os professores começaram a propor que ela participasse de todas as apresentações. “Um traço marcante do tímido é a perfeição. A Yasmin capricha em tudo para não fazer feio. Ela chegou a sambar na escola e eu perdi isso”.  

Segundo a psiquiatra Michele Medeiros, a timidez também está atrelada a cultura. A relação do indivíduo com as experiências vividas em casa podem desenvolver um comportamento mais reservado. “Os japoneses, por exemplo, são pessoas de cultura mais discretas, e se comparados aos italianos, são pessoas muito mais expansivas. As características familiares influenciam na timidez,” comenta.

De acordo com Michele Medeiros, timidez também é como um traço temperamental. Pode haver um componente genético – não absolutamente determinante – que faz com que as pessoas sejam tímidas. Um bebê, desde pequeno se sente à vontade com novos estímulos e brinquedos, enquanto outros se retraem. A teoria diz que a maioria dos bebês retraídos vão crescer e virar adultos tímidos, da mesma forma, os mais desinibidos serão adultos extrovertidos. “Os pais precisam estimular suas crianças, principalmente, entre os três primeiros anos de idade,” completa a psiquiatra.

Vitor Lázaro de 20 anos é tímido e cursa faculdade de Letras. Quer ser professor de línguas. Um problema para ele ter uma profissão expositiva como essa? Talvez não. O estudante encontrou na música uma forma de vencer a timidez. “Depois que comecei a tocar guitarra na igreja sinto que me destravei.”

Semelhante ao Vitor, a Rosana também não vê problemas com a timidez em sua profissão, hoje com 29 anos, ela trabalha como atendente lidando com público todos os dias. Sua maior dificuldade era falar com as pessoas. Desde a infância não tinha amigos ou até mesmo não conseguia participar de um simples jantar na casa de alguma amiga. “Nossa! Que menina do mato. Parece jeca para comer”, lembra ter escutado a mesma frase inúmeras vezes.

Falar em público, participar de entrevistas coletivas de emprego? Nem pensar. A fala se perde no mesmo instante. “Eu tinha muita vontade de ser comunicativa, falar muito, mas nunca consegui.” Mesmo com todos os pontos negativos, ressalta uma qualidade: saber observar e prestar mais atenção ao seu redor.

Hoje consegue comer em público, conversar mais com as pessoas e se sente feliz, mas, sua maior dificuldade ainda é se expressar em público. “Só o fato de falar alto na frente de muitas pessoas, já seria uma vitória. Já perdi muitas oportunidades por ter vergonha.”

Vencer a timidez é possível, mas os dados da pesquisa realizada na faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra mostram que apenas 5 dos tímidos procuram tratamento. 

A psicóloga Lourdes Cunha ainda diz que não existe problema em ser tímido. “O problema só acontece quando a pessoa se retrai ao ponto de chegar à solidão”.  Ela dá dicas para quem sofre com a timidez: “A música, o teatro ou a própria psicologia podem ajudar a destravar uma pessoa tímida,” conclui.

Assim como o Vitor, Fabiana Matricardi, já com 27 anos, venceu a introversão através da música. Sempre foi uma criança introvertida e sofria para falar publicamente. “Antes mesmo de entrar na escola regular, eu já frequentava aulas de música”. Hoje, professora de música, ainda se diz tímida, mas aprendeu como lidar com a situação. “Agora aprendi algumas estratégias para driblar a situação”.

Ainda assim, 20 dos tímidos, como o Luiz Fellipe, não acham sua retração um problema. E não devem mesmo. Jim Collins, administrador de empresas nos Estados Unidos, estudou 1.345 grandes empresas e constatou que as mais bem sucedidas são administradas por chefes tímidos. “O líder tímido se preocupa apenas em fazer um bom trabalho e não em ganhar fama ou status”, conclui.

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