TRÂNSITO CRESCEU E EVOLUIU, MAS AINDA PODE MELHORAR

Volume crescente de carros e falta de prudência ao volante ajudam a aumentar índices negativos, conscientização e ações de mobilidade urbana tem ajudado

Por: Thamires Ferreira

Presidente Prudente tem oficialmente um carro para cada duas pessoas. No entanto como polo da 10ª Região Administrativa do Estado de São Paulo recebe diariamente uma frota extra. Controlar a alta circulação de modo a evitar infortúnios tornou-se um desafio para moradores, visitantes e poder público.

Por dia registram-se em média 15 acidentes de trânsito na região. Conforme dados do Relatório de Análises Críticas utilizado pelo Corpo de Bombeiros de Presidente Prudente de janeiro a julho deste ano foram 3.322 casos na área coberta pelo 14º Grupamento de Bombeiros. Nas 10 cidades e três setores de Presidente Prudente o índice ultrapassa em 73 por cento todo ano passado. Foram 160 vítimas fatais em 2013. Este ano até julho são 28 mortes.

Em Presidente Prudente a média é 18 registros. Os números da Semav (Secretaria Municipal de Assuntos Viários) nos primeiros seis meses do ano foram 80 atropelamentos, 809 batidas com vítimas e 2.955 sem vítimas. 25,72 por cento dos casos envolvem motociclistas e nestes houve dois óbitos.

Aliás, o Mapa da Violência 2014 mostra que dos 46.051 óbitos registradas nas vias do país, 16.223 foram de motociclistas. O quadro da maior vulnerabilidade desses condutores se repete em Presidente Prudente. Das 4.010 ocorrências registradas pelos Bombeiros até novembro, 1.508 envolveram motos.

“Todos os dias nós temos quatro, cinco às vezes 10 acidentes com motos. Há cidades com uma população maior do que a nossa e com índices bem menores. O que acontece aqui é muita imprudência”, afirma o Sub Tenente PM Marcos Bratifisch.

O Secretário Municipal de Assuntos Viários e Cooperação em Segurança Pública, Oswaldo de Oliveira Boschet, reconhece que os índices são altos, mas afirma que as últimas ações realizadas resultaram em uma redução em relação ao ano passado.  De acordo com a Semav, em todo ano de 2013 foram 5.707 acidentes contra os 4.615 divulgados até outubro e mesmo com adição dos 400 casos previstos para os próximos meses o valor continuaria inferior.

A pasta contabiliza haver de 200 a 250 autuações diárias, o índice é baixo segundo o secretário. “Se ampliarmos a equipe de fiscais o número de infração tende a diminuir. Porque é o sentimento de impunidade que estimula o infrator.”

Em novembro passou a vigorar a lei 12.971/2014 que altera parte do Código de Trânsito Brasileiro. A multa por transitar em sentido oposto passou de R$ 191,54 para R$ 1.915,40 além da suspensão do direito de dirigir. Ultrapassar pelo acostamento acarretava em penalização de R$ 127,69 agora prevê R$ 957,70. A multa por ultrapassar em local proibido foi elevada para R$ 957,70 ante os R$ 191,54 cobrados anteriormente. Caso haja reincidência nas infrações em menos de 12 meses, alguns artigos tem seu valor dobrado.

A estudante Andressa Dias Alencar, 18, concluirá as aulas de direção nas categorias A e B ainda este ano. Para ela as penalizações são a medida mais eficaz para controlar os motoristas. “O trânsito de Prudente é complicado, não por ser ‘cheio’, e sim por causa das pessoas mal educadas. Quem esta há muito tempo habilitado acha que pode tudo, e sabe tudo.”

Da teoria para a prática

O Detran.SP concede aos candidatos aprovados nas categorias A (moto), B (automóvel) uma carteira provisória de direção. Se o motorista não comete nenhuma infração recebe a Carteira Nacional de Habilitação (CNH definitiva). Para tanto há um curso teórico de 45 horas/aula, uma prova, e 20 horas/aula por categoria. Caso reprovado no exame final o candidato pode refazê-lo desde que dentro do período de um ano desde a matrícula no Curso de Formação de Condutores (CFC).

 “A autoescola não prepara a gente para o dia a dia. Só com a experiência mesmo pra sair do básico. Por isso me preocupo mais com as outras pessoas, é melhor se eu me machucar do que carregar a culpa de ferir outras pessoas”, afirma Andressa que mesmo confiante, pois sempre teve o desejo de dirigir, tem como maior preocupação ao volante os outros motoristas e pedestres.  

De acordo com Boschet o principal fator desencadeador de batidas e atropelamentos em Prudente é a imprudência dos condutores, principalmente no que tange a não observância da sinalização. Muitas vezes os autos índices levam a elaboração de estudo sobre o local, faz-se uma triagem observando-se a frota que trafega naquele ponto, e o principal destino. Isso pode levar à alteração do sentido das vias por exemplo.

Com base no trinômio: fluidez, trafegabilidade e segurança o Plano de Mobilidade criado para a Rua Antônio Lopes de Azevedo, que passa atrás da Igreja de Nossa Senhora Aparecida na Vila Marcondes, mostrou a necessidade de evitar que os fluxos das ruas Marechal Floriano Peixoto, Barão do Rio Branco e Avenida Presidente Juscelino Kubitschek se encontrassem. “Desde que foi invertido o curso dela há cerca de oito meses, nós não temos registro de colisões. Dos três acidentes/mês reduzimos a zero neste local”, exemplificou.

O desafio é enfrentar o crescimento na frota veicular. “O governo estimula cada vez mais a aquisição, e embora as pessoas tenham o direito de ter seus veículos, temos que ampliar o uso do transporte coletivo”, diz. Hoje o sistema em operação é chamado de Radial, ou seja, todos os ônibus passam obrigatoriamente pelo centro da cidade. Planeja-se criar novos subterminais a fim de reduzir o tempo de deslocamento e consequentemente o conforto, mas a preços acessíveis. Atualmente a tarifa das passagens está em R$ 2,80. 

Foi com o Plano de Metas de Juscelino Kubitschek que a motorização privada passou a conotar como chave do desenvolvimento do País. Com o incentivo à indústria automobilística, e sem preocupação com a distribuição da renda gerada ou com investimentos na área social, pôde-se perceber o início da precarização do transporte público e da mobilidade urbana, e da concentração industrial no sul do País. A partir daí segundo o Mapa da Violência 2014, a motocicleta virou a solução para a mobilidade aos setores da população de menor renda.

Com a crise econômica o Brasil decidiu reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em outubro de 2012, dados da federação Nacional de Distribuição de veículos Automotores (Fenabrave) registou alta histórica de 15,40 nos emplacamentos. Nos 10 primeiros meses do ano as vendas de veículos acumulam queda de 8,91 em relação ao ano anterior. A volta do fim do IPI está programada para o dia 31 de dezembro.

Geografia dos acidentes

Durante oito meses um grupo de pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista) analisou a distribuição espacial dos acidentes de trânsito em  Presidente Prudente. De junho de 2009 a janeiro de 2010, Patrícia Sayuri Silvestre Matsumoto e Edilson Ferreira Flores do curso de Geografia da FCT (Faculdade de Ciência e Tecnologia) coletaram dados dos Boletins de Ocorrência da Policia Militar e aplicaram técnicas de estatística espacial a fim de identificar a concentração de acidentes por endereço.

Os endereços onde a violência no trânsito é maior foram os bairros Jardim Bongiovanni, onde localiza-se o Campus I da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), e nos arredores da Unesp e do Prudenshopping no período noturno; e no cruzamento dos hipermercados Carrefour e Muffato Max a concentração se elevava durante a manhã e tarde. Com 3.564 fatos registrados, em média 445 acidentes por mês os estudantes puderam concluir que a frequência era maior em novembro e menor em janeiro.

Segundo Matsumoto e Flores, o Bongiovanni concentra bares, boates, casas de shows, moradias estudantis, etc., o que produz uma forte relação entre os locais e a hora em que ocorreram os acidentes, visto que nesta localidade é comum o flagrante de embriaguez nos condutores, multas por alta velocidade, entre outras infrações. “Sendo assim, percebeu-se uma relação de que quando os estudantes estão em período de férias, há uma diminuição das ocorrências em acidentes de trânsito.”

Em janeiro a área do Campus I passa de média intensidade de acidentes para média-baixa concentração, no eixo do Prudenshopping passa de alta concentração para baixa.

Para os pesquisadores essas diferentes espacializações dos acidentes demonstram que em Presidente Prudente não existe apenas uma centralidade, mas que as mesmas se modificam, esta pesquisa pode ser colocado a disposição do poder público, seja para uma reestruturação da engenharia de tráfego, ou mesmo para campanhas e mudanças político-sociais. E assim acreditar em uma cidade com sistema viário bem estruturado.

*MATSUMOTO, Patrícia Sayuri Silvestre; FLORES, Edilson Ferreira. Estatística Espacial na Geografia: um estudo dos acidentes de trânsito em Presidente Prudente. Departamento de Geografia da Unesp/FCT, 2010, n.12, v.1. janeiro a junho, p.95-113.

Fotografia

A imagem de capa foi livremente inspirada no trabalho de artístas que recriam cidades em miniatura como o Miniatur Wunderland, uma enorme reprodução do modelo ferroviário, é uma das mais bem sucedidas exposições permanentes no norte da Alemanha. Aberta a visitantes ela demostra o fncionamento de uma cidade tendo como epicentro o sistema ferroviários, garante belas imagens com a precisão de escala de proporções e com a riqueza de detalhes.

E o reflexivo “Lille People” do artista Britânico Slinkachu que mescla instalações de rua (neste caso pequenas pessoas) com fotografia. “É ao mesmo tempo um projeto de instalação de arte de rua e um projeto fotográfico. O lado urbano do meu trabalho brinca com a noção de surpresa e busca encorajar os moradores das cidades a estar mais atentos ao que acontece a seu redor”, explica Slinkachu, que tem 28 anos”.

As revistas tem maior liberdade de criação, e ilustrar matérias não precisa seguir o tradicional fotojornalismo. Explorar o universo artístico é uma opção, e também pode ser bem divertido para o repórter que a idealiza.