TRIBOS SE FORMAM NA BUSCA DE INTERESSES EM COMUM

Em Prudente é possível ver em um único lugar pessoas de vários estilos em harmonia, o problema é a falta de intercâmbio. Nesta reportagem, cinco tribos estarão em destaque: os skatistas, os rappers, os jovens católicos, os roqueiros e os nerds.

Por: Charles Chagas, Cláudio Almeida, Hélio Filho, João Victor Guirado e Pedro Reis

Cada pessoa tem seu gosto, jeito, amigos e maneira de levar a vida. Porém a vida em comunidade é notoriamente dividida por grupos. Essas subsociedades são chamadas de tribos urbanas.

O termo “tribo urbana” foi criado pelo sociólogo francês Michael Maffesoli em 1985. Mas ao longo da evolução social, essas tribos se moldaram de acordo com cada cultura.

Em Presidente Prudente é possível ver em um único lugar pessoas de vários estilos em harmonia, o problema é a falta de intercâmbio. Nesta reportagem, cinco tribos estarão em destaque: os skatistas, os rappers, os jovens católicos, os roqueiros e os nerds.

Skatistas

A tribo dos skatistas é baseada na prática do esporte, o skate. Essa galera se reúne com o interesse de treinar. Porém é visível que eles se vestem, andam e até falam de uma maneira diferente das outras pessoas.

 Eles não restringem a classe social, basta um skate nos pés e uma pista ou uma rua para se divertirem. Os skatistas prudentinos se reúnem em maior número na pista do Parque do Povo. Diariamente é possível ver crianças, jovens e adultos misturados.    

No entanto, não fogem do modismo. Segundo o professor e praticante do esporte, Vinícius Mansano, várias pessoas querem se inserir na tribo e se esquecem do primordial: “hoje em dia a gente vê uma galera com o skate na mão, mas não sabe nem andar em cima dele”.

Apesar disso, Vinicius vê o número de skatistas em Prudente crescer por ter se tornado algo mais acessível. Para ele, em pouco tempo a cidade vai se tornar um pólo do esporte. “Com o apoio que temos recebido da prefeitura, a gente consegue fazer eventos voltados ao esporte e a integração”.

Vinícius ainda lembra que antes quem pré-julgava os skatistas são as pessoas que hoje mais apoiam. “Antigamente falavam que somos maconheiros. Hoje a gente vê pais de família com seus filhos em uma pista”.

Porém, os bons modos do esporte ainda não são unanimidade na cidade. “Eu dou aula no Ana Jacinta e o pessoal acaba criando uma rivalidade com quem anda em outros locais. Quem anda no Parque do Povo acha que não tem uma molecada boa nos outros lugares da cidade”, explica o professor.

Ele lembra que para ser forte é preciso de união. “Aqueles que se conhecem são como uma família. É isso que eu prezo aqui, todos em prol do skate”.

Rappers

O Rap (Rhythm and Poesty – Ritmo e Poesia) é um estilo que veio das periferias dos Estados Unidos. No Brasil ele foi subdividido em outros estilos, como o funk. MC Jô, cantor de funk de 16 anos, canta o chamado “funk ostentação”. “A gente mostra que a pessoa da periferia conseguiu crescer. Eu ainda não tenho tudo o que canto, mas a gente vê o MC Guime, MC Gui. Eles cantam o que vivem”.

“Os riquinhos passam aqui e olham torto. Mas a gente sabe que eles gostam e admiram a maneira que a gente rima”. Para MC Jô, a polícia também tem preconceito. “Eles andam com as mesmas roupas que a gente, então a policia acha que os funqueiros são bandidos”.

Muitos ídolos dessa cultura sofreram com a marginalização do seu estilo, por ter surgido de uma classe social baixa da América do Norte. “2Pac e 50 Cent” demoraram anos para mostrar que a música era apenas uma maneira de expressar a vida na periferia.

 No Brasil não foi diferente, os Racionais MCs conseguiram mostrar para a sociedade em geral que o Rap não é feito por bandidos, mas sim por artistas. Hoje, além do grupo comandado por Mano Brown, Emicida e Criolo são outros rappers que com suas poesias atingiram as classes mais altas.

 Em Prudente, a tribo dos rappers se reúne às sextas-feiras no Parque do Povo. O que parece um “rolezinho” da moda, nada mais é do que vários jovens com a intenção de mostrar o seu talento. O estudante Rafael Hard explica que “a principal intenção é mostrar que o interior tem voz e que aqui também se faz Rap”.

De acordo com Hard, todas as tribos podem conviver harmonicamente. “Aqui você pode ver de tudo. A gente não tem problema com ninguém”.

A batida da música faz os rappers liberarem aquilo que sentem. “Se a pessoa tem um problema é melhor ele vir aqui fazer uma rima, se expressar, do que sair na rua e ir atrás de coisa errada”, diz o também estudante João Pedro Beraldo Silva, que no Rap é conhecido como MC The Flash. “A gente curte a mesma batida, vamos ao Parque do Povo para juntar os MCs e fazer um som”.

Jovens Católicos

A tribo dos jovens católicos é a mais espiritualizada de todas. Eles não têm como missão mostrar para a sociedade a visão que possuem. Não, ela não é uma tribo individualista, pelo contrário, é uma tribo que por seguir os dogmas cristãos prega pelo amor ao próximo.

Esses jovens, na maioria das vezes, não se unem por um estilo musical, maneira de se vestir ou classe, são pessoas com a intenção de seguir as doutrinas do catolicismo. Hoje em praticamente todas as paróquias existem os chamados Grupo de Jovens. Esse grupos levam aos jovens palavras de incentivo e, o principal, a amizade.

Thayana Hengstmann, de 20 anos, é uma das poucas exceções. A estudante de Engenharia Civil fala que o que a atraiu à Igreja foi uma banda, o Rosa de Saron. “Eles vieram para minha cidade e todo mundo falava que era legal. Então fui ao show e amei, me senti tocada e entrei de cabeça nesse mundo”.

Ela ainda afirma que a diversão cristã é diferente. Para ela nos momentos de tristeza a pessoa lembra-se dos acampamentos. “A diversão cristã é diferente, quando a pessoa está triste ela não vai se lembrar de uma festa, vai lembrar um retiro da igreja. Essa diversão toca sua alma”.

Daniel Turino tem 25 anos, é coordenador de um grupo de jovens de Prudente e fala que a união desta tribo é dar o tempo para Deus. “A gente chega aqui, canta, reza. As pessoas precisam fazer alguma coisa para agradecer as coisas da vida. Eu dou meu tempo para louvar”.

Roqueiros

Em Prudente, o rock luta para sobreviver. Bandas autorais da região têm pouco espaço em bares e boates da cidade. Outra reclamação recorrente é a falta de apoio dos próprios fãs. É o que revela o radialista Cesinha Crepaldi. “Os fãs do Rock preferem gastar em outra coisa ao invés de apoiar a cena do rock na cidade”. Para ele, a falta de incentivo e de público dificulta a expansão dos roqueiros. “Nos shows de graça todos vão. Raramente acontece um festival. E quando tem o povo se nega a pagar dez reais”.

Lucas Soares, músico e publicitário, reclama da falta de espaço para o rock na região. “Minha banda só toca fora de Prudente, aqui não tem onde tocar. Existe apenas um bar para isso”. Porém, ele arrumou uma solução para a falta de espaço: organiza o Grito Rock, um evento que reúne bandas de todo o estado, com baixo custo no ingresso e com um projeto de doação de alimentos. “Muitas vezes tiro do próprio bolso para fazer o evento. A intenção é trazer o público para ouvir uma boa música”.

Os roqueiros acreditam que aquele estigma de pessoa radical e drogada antes vista pela sociedade passou. Para eles, o cabelo hoje já não incomoda muito. Quem fala isso é o estudante Luis de Almeida Farruso, de 15 anos. “Hoje já é normal ver um cabeludo com uma camiseta de banda na rua”.

Para Pedro Henrique Piccarelli, de 17 anos, estudante de Engenharia Civil, as pessoas se unem por gostarem do estilo musical. “Eu penso que a pessoa que gosta de rock, gosta de boa música. Por ser um estilo fora da cultura regional, os roqueiros são bem unidos. Não é preciso conversar com alguém para saber que aquela pessoa gosta de uma boa música.”

Ricardo Girardi Pereira é dono da loja “Casa do Rock” em Prudente e diz que a cena do rock “já foi melhor”. Segundo Ricardo, até o ano de 2005 os eventos eram mais frequentados. “Hoje a molecada fica na internet e deixa de pagar para ir a um show de rock ou comprar um CD físico.”

Nerd

Há variedades entre o público nerd. As diferenças entre eles vão desde Cosplayers até Card Gamer (Jogador de Cartas). Os nerds mais tradicionais são influenciados pela cultura Norte Americana, quadrinhos de super heróis, filmes e livros.

Existem aqueles influenciados especificamente pela cultura nipônica, que são chamados de otakus; os geeks, fãs de tecnologia; e os gamers, fãs de jogos eletrônicos.

O estudante de ciências da computação Luiz Henrique Vila, de 22 anos, lembra que os nerds, basicamente são colecionadores. “Nós somos colecionadores de alguma coisa. Games, cartas, RPG. Sabemos tudo sobre o assunto, como se fosse um hobby”.

Para Luiz Henrique, RPG é um jogo de interpretação. “É como se estivéssemos dentro de um vídeo game”. Luiz fala que interpretam personagens e jogam a história de acordo com livros. “A gente se reúne em uma chácara, organizamos os personagens e começamos a partida. É um jogo simples, mas nós somos os protagonistas”.

O empresário Felipe Cabral fala que a mídia ajuda a denegrir a imagem desta tribo. “A mídia escracha a gente. Nós vemos isso em reportagens de TV, onde mostram um Cosplay como um retardado. Não somos assim”. Felipe ainda faz uma declaração em nome dos nerds: “nós queremos ser respeitados. Podemos expor nossos conhecimentos e pontos de vista”. 

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