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A Revista Prisma reuniu Alexandre Orion, Michael Giacchino, livros e documentários em uma única matéria com intuito de expandir seus horizontes; aproveite nosso garimpo.

Por: Redação Prisma

Encarado como um dos melhores exemplos do que é ser um interventor urbano, o artista multimídia Alexandre Orion conquistou a atenção do mundo com a obra “Ossário”. Talvez seja difícil ligar o nome à imagem, mas ela rodou o mundo, irritou o poder público, e alçou o nome do artista a voos mais altos. Na contramão do grafite, que tradicionalmente adiciona cor a um ambiente, ele limpava a fuligem depositada nas paredes dos túneis de São Paulo, desenhando com ela dezenas de caveiras.

Um dos vários questionamentos que levantou foi como proibir que alguém limpasse a cidade. “Meu trabalho é um gatilho. E na medida que ele provoca ele espera uma resposta”, diz. E foi o que aconteceu quando os 300 metros do túnel paulista Max Feffer, utilizado por ele, foram lavados pela primeira vez com jatos d’água pela prefeitura.

Outro trabalho memorável é “Metabiótica”, um verdadeiro clássico das intervenções urbanas, que reúne de uma só vez as artes do grafite e da fotografia. Com desenhos Stencil, em bom português estêncil, técnica de aplicação de graffiti que utiliza uma matriz vazada, por onde você aplica a tinta, ele reproduz cenas do cotidiano em muros da maior metrópole do Brasil e aguarda a interação entre a imagem e as pessoas que passam por ela. Dessa forma, Orion faz com que o grafite ganhe vida, chama atenção de quem passa e eterniza a sensação provocada nelas a partir dos registros fotográficos.

Os flagrantes capturados ao longo de quatro anos integram um foto-livro publicado em 2006. Sem um roteiro planejado, ele aguardava reações espontâneas e inusitadas por isso algumas imagens levaram dias para saírem com o resultado esperado. Apesar da dificuldade, ele continua clicando os “frutos” dessa intervenção.

Ele tem jeito de rebelde, barba por fazer, tênis gastos, camiseta e jeans, mas com dezenas de carimbos no passaporte. Ele está no roteiro das principais galerias de arte do Brasil e do mundo desde 2004. Não surpreende o fato de ter sido impossível não fazer uma sátira sobre a própria condição de transgressor misturada ao glamour das galerias.

Com “Lampoonist” ele mostra o capitalismo e a linguagem das ruas como uma coisa só. E confunde o espectador com uso da grafia utilizada nas criticas dos pichadores a indústria do consumo em composições de neon. A ironia conquistada é de ver o pixo, segregado pelo mercado ao diferenciar grafite de pichação, exposto como obra de arte. Nas palavras de Orion “um híbrido entre marginal e oficial”.

Um jeito de incomodar

Essa vertente questionadora e repleta de dualidades também está presente em Dèfense D’afficher (algo como Exibição de Defesa), um vídeo-documentário francês que propôs a oito grafiteiros de todo o Mundo, ente eles Orion, a provocarem a cidade em que vivem com algum tipo de intervenção. Em outras palavras, usar arte de rua para dizer algo.

A frase: “Às vezes é na pausa que as coisas ganham forma” resume bem o objetivo do projeto que tira da inércia quem assiste ao doc.

Com um balde de tinta furado, Orion percorreu as ruas da grande São Paulo deixando por onde passava um rastro branco. Essa atitude simples vem acompanhada de suas reflexões sobre como é possível instigar a reflexão, e demonstrar a fugacidade da vida e das ideias em meio a correria do dia a dia.

O mais recente projeto do artista conquista em um mural de 30 metros de altura na parede do CEU do Grajaú. Nele uma criança brinca com casinhas que remetem a uma favela. Aberto à múltiplas interpretações pode ser uma referência ao processo de desapropriação iniciado na área, assim como questiona o observador quanto ao fato de destruirmos o ambiente a nossa volta e muitas vezes nem nos damos conta disso.

A imagem foi feita com fuligem diluída em tinta acrílica, nada mais característico. Essa foi a primeira ação desde que retornou ao Brasil. Murais como o “Apreensão” foram grafitados em Frankfurt, Alemanha e no Rio de Janeiro no projeto “Poluição sobre muro”. Saiba mais sobre os projetos desse artista em sua na página oficial.

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