o palco infinito da arte de rua

A rua se tornou o principal cenário de pessoas que se expressam pela arte​ urbana, visando reconhecimento e reflexão na sociedade

Por Bruna Bonfim, Helen Gallis e Isabela Souza

Um lugar que circulam centenas de pessoas todos os dias, no vai e vem intenso da rotina, é onde também recebem os artistas mais conhecidos da cidade, o Calçadão. Lá encontra-se quem canta, dança, toca e principalmente quem desperta alegria na população.

Inclusive é na praça 9 de Julho que os prudentinos escutam o som suave das dezenas de cordas de nylon, todas perfeitamente alinhadas que remetem ao som dos anjos. A harpa é considerada um dos instrumentos mais antigos, citado até mesmo na bíblia ao contar a história de Rei Davi, cerca de 1.040 a.C. Desde este período não se sabe ao certo quem a inventou, pois passou por constantes evoluções. Em uma delas, surgiu a harpa paraguaia e é com ela que o Derlis Fernandez toca a vida.

“Vim ao Brasil para trabalhar e estudar. Estou em Presidente Prudente há três anos. Apresento-me nesse palco há dois”, afirma Derlis.

Foto: Helen Gallis

foto: Bruna Bonfim

Derlis Fernandez já se apresentou em diversos lugares, hoje faz a alegria das pessoas na praça 9 de julho

O paraguaio natural de Villa Rica já se apresentou em grandes palcos como em Barretos. Ele abriu shows de artistas renomados, como a dupla sertaneja Jorge e Mateus, para um público de mais de 100 mil pessoas. Atualmente Derlis é artista de rua e seu palco é o Calçadão de Presidente Prudente, o que possibilita todas as classes sociais a terem contato com uma arte considerada de elite. 

Aliás, foi com esse pensamento que surgiram os artistas de ruas. Segundo o mestre em educação e professor de artes Everton Tomiazzi, houve muitas manifestações pela cultura de massa. A população e até mesmo artistas se rebelaram contra o acesso restrito à arte pela elite. 

 

“A arte de rua nasce então a partir de movimentos ideológicos e políticos, como uma forma de protesto, reivindicação de algo frente à sociedade. Ela não precisa de tempo, espaço, ideia e movimento, se finda a partir de contextos ideológicos no qual o artista que irá executar tem seus preceitos e de como atingir tal público com algum tipo de conteúdo para de chamar a atenção da sociedade para um problema social enfrentado”, afirma Everton.

 

Na antiguidade as manifestações artísticas concentravam-se em arenas e espaços públicos, porém estes espaços eram ocupados exclusivamente pela classe da elite e nobreza. Estes eram mais privilegiados a tal acesso pela e para a arte. O acesso à arte por todas as classes populacionais aconteceu graças aos movimentos da vanguarda europeia no início do século 20, que tornou mais frequente sua divulgação.

GRAFITE É UMA DAS FORMAS DA CULTURA DE RUA

BATALHA DA MÔNTICA MISTURA
CONHECIMENTO E CULTURA

“A essência do negócio é o improviso”, é isso que Wesley Menotti, vulgo MC Galo, de 25 anos, acredita. Ele é quem coordena a batalha de rap que acontece toda quarta-feira no Parque do Povo. A Batalha da Môntica, como é conhecida as disputas, existe há quase um ano e oferece oportunidade para novos MCs entrarem no universo das rimas.

BATALHA REÚNE JOVENS QUE RIMAM NO PARQUE DO POVO DE PRESIDENTE PRUDENTE

foto: Gabriel Takada

Batalha reúne cerca de 30 pessoas toda quarta-feira no Parque do Povo

RESISTÊNCIA MUNDIAL AO PRIVILÉGIO DO BELO

A luta pela arte popular ainda acontece. A obra “Menina com Balão”, do  grafiteiro anônimo Banksy, foi destaque no mundo ao se autodestruir após ser arrematado em um leilão em Londres no valor acima de 1 milhão de libras, cerca de R$5 milhões de reais. O próprio artista instalou secretamente um cortador de papel dentro da moldura para triturar a obra caso fosse leiloada. A Menina com Balão é originária do grafite e foi pintada em um muro no leste de Londres. A arte de rua inclusive foi escolhida no ano de 2017 como a obra predileta do Reino Unido. O fenômeno que aconteceu no museu foi divulgado no Instagram do artista e mostra o momento exato do fato e a instalação do cortador de papel feito por Banksy.

“Não fazemos arte para o povo, somos o povo fazendo arte”, esse é o lema dos irmãos gêmeos Jeferson Raigoza e Davison Raigoza que com o malabarismo fazem muitas pessoas sorrirem. A apresentação nas ruas é a forma de vida que optaram onde é possível aliar trabalho, diversão e amor pelo o que fazem. Além de conhecer diversos lugares pelo mundo. 

Direto da Colômbia e há mais de um ano no Brasil, o grupo afirma que esse trabalho é uma forma de resistência para acabar com o preconceito e a ignorância das pessoas em relação ao artista de rua.

Jeferson explica que o fato de estarem no farol mostrando seu trabalho não é um pedido de contribuição e sim para expressar o porquê estão ali, exclusivamente pela arte. “Nós não fazemos arte por fazer, nós fazemos para as pessoas entenderem que é um método de luta e uma forma de representar a vivência de cada um. É um estilo de vida que pode interessar as pessoas”.

Os irmãos ainda comentam o fato de terem a própria independência no trabalho por não precisar acatar decisões de outras pessoas, como em diversas empresas, e sim depender deles próprios. Antes de chegar em Presidente Prudente, o malabarismo possibilitou os amigos “mochilar” por diversos países com intuito de levar a arte para a  Bolívia, Peru, Equador e Brasil. Mas um problema que eles ainda enfrentam é o reconhecimento dos artistas de rua para a sociedade. “Muitas vezes as pessoas nos julgam sem conhecer, é um preconceito. São pessoas ignorantes e não veem que o que fazemos é uma resistência ao sistema, ao racismo. É uma luta para permanecer”, diz Davison.

O professor Everton afirma que estes artistas, em sua grande maioria, não são mencionados em espaços destinados às representações artísticas, como museus e afins. Isso se dá pelo fato da própria sociedade privilegiar o belo, o que importa é o que está na mídia. “O artista de rua contribui e muito para uma formação ideológica e de senso comum em um contexto geral. Uma obra pode chocar os governantes, por exemplo, e chamar a atenção da sociedade para um problema enfrentado pela população menos favorecida”, conclui o professor.

Jeferson Raigoza já viajou para diversos lugares levando sua arte para as pessoas apreciarem

O QUE É O HIP HOP PARA VOCÊ?

Uma herança norte-americana, que nasceu justamente em becos e vielas, vem ganhando respeito e mudando vidas. O nome já diz tudo, o Street Dance, em português “dança de rua”, tornou-se um estilo vida para muitas pessoas, inclusive para o professor Léo, que ensina esta arte a crianças e adultos no Centro Cultural Matarazzo em Presidente Prudente.

FICHA TÉCNICA

REPÓRTERES: Bruna Bonfim, Helen Gallis e Isabela Souza – FOTOGRAFIA: Bruna Bonfim, Helen Gallis e Isabela Souza – ÁUDIO: Bruna Bonfim, Helen Gallis e Isabela Souza – CINEGRAFIA: Bruna Bonfim, Helen Gallis e Isabela Souza – EDIÇÃO DE TEXTOS: Bruna Bonfim, Helen Gallis e Isabela Souza – EDIÇÃO DE VÍDEO: Isabela Souza – EDIÇÃO DE IMAGENS: Bruna Bonfim, Helen Gallis e Isabela Souza – EDIÇÃO DE ÁUDIO: Bruna Bonfim – LAYOUT DA REPORTAGEM: Bruna Bonfim, Helen Gallis e Isabela Souza – EDIÇÃO FINAL E SUPERVISÃO: Fabiana Aline Alves