Entidades se mobilizam pelo Outubro Rosa

 

MARCO VINICIUS ROPELLI

 No Brasil, estatísticas do Inca (Instituto Nacional de Câncer) estimam que até o final deste ano, o câncer de mama será, entre as mulheres, o tipo de tumor maligno mais diagnosticado: 66.280 novos casos, o que representa 29,7% do total de todas as neoplasias.  Não à toa, o mês de conscientização sobre a doença, continua, com ênfase, sendo pintado de cor-de-rosa, mesmo em tempos de pandemia.

Algumas entidades prudentinas se dedicam a prestar assistência, desde apoio até tratamento, às mulheres que enfrentam esta batalha. Essas instituições utilizam a reverberação do outubro rosa, para darem ainda mais “voz” às campanhas e ações que no ano todo realizam: nesta reportagem você conhecerá as ações realizadas pelas Amigas do Peito, HRCPP (Hospital Regional do Câncer de Presidente Prudente) e Almofadas do Coração.

“A amizade é um amor que nunca morre”

Luiza Elizabeth Cintra Soares, 56 anos, durante exames de rotina para controle de cistos líquidos na mama, em 2008, percebeu, por meio de exames, que um desses “cistos” cresceu muito em seis meses, o que a levou a uma mastologista (especialidade médica que se dedica ao estudo das glândulas mamárias).

Depois de exames detalhados, foi feita a cirurgia para retirada do nódulo e, em biópsia, concluiu-se que aquele tumor era maligno. Depois de sete dias da notícia impactante, durante outra cirurgia, desta vez para limpeza da região onde estava o nódulo, foi necessário retirar a mama inteira.

Luiza venceu a doença e é voluntária Foto: Cedida

Luiza  descobriu o câncer aos 43 anos; ela revela que o diagnóstico foi impactante. “Ter câncer de mama é uma coisa impactante, pois é uma palavra que remete a morte. A gente sabe que essa doença existe, mas não queremos acreditar que vai acontecer na família da gente, mas, infelizmente, o câncer é uma doença que não escolhe idade, classe social…”, explica Luiza.

Depois das cirurgias, ela precisou realizar fisioterapia e seis sessões de quimioterapia. Há 12 anos ela está curada da doença.

Foi durante o tratamento que Luiza conheceu as “Amigas do Peito”, entidade beneficente, sem fins lucrativos, que luta para melhorar a qualidade de vida das mulheres que estão vivendo a difícil situação de um diagnóstico de câncer de mama. “Foi através da mãe de alunas que eu tive [quando professora de geografia da rede estadual de Pirapozinho]. Na época, não conhecia pessoas que tinham passado pelo câncer de mama, e as alunas perguntaram se a mãe delas poderia vir em minha casa. Aí, na véspera das minhas cirurgias, essa mulher apareceu em casa e me preparou para o que estava para acontecer. Deus encaminhou ela para minha casa. Ela já era do grupo “Amigas do Peito”, a primeira aqui em Pirapozinho a integrar o grupo”, relata.

Em abril de 2008 ela participou de sua primeira reunião com as amigas em Presidente Prudente e diz ter sido surpreendente conhecer as mulheres tão positivas e otimistas. “Muito contribuíram para meu tratamento ser um sucesso. Me espelhei nelas, constatei que a vida continua, apesar do que a gente passou”, afirma Luiza.

Ela, mesmo curada, continua fazendo parte do grupo, e diz que faz isso porque pode passar para frente a força que recebeu delas.

Força: coisa de verdadeiras amigas. Como no verso do poeta brasileiro Mário Quintana, “A amizade é um amor que nunca morre”. Neste outubro rosa, em tempos de pandemia, as “Amigas do Peito” não se deixaram vencer pelas mudanças que no novo coronavírus causou na rotina e prepararam várias ações, sendo a maioria delas em plataformas digitais e remotamente, conforme conta a presidente do Grupo de Apoio Amigas do Peito, Cássia Régia Sonvesso Sperini. Ações desenvolvidas pela entidade durante o mês:

  • Outdoors foram posicionados em parceria com empresas de Presidente Prudente, com o intuito de divulgar o trabalho da ONG (organização não governamental) e da campanha Outubro Rosa.
  • Algumas escolas de Presidente Prudente estão fazendo “Drive Thru” com a finalidade de arrecadar produtos utilizados no dia-a-dia das pacientes do grupo de apoio, ao longo do ano.
  • A empresa “Marrocos Lanches” criou o lanche Rosa, que está sendo vendido durante todo o mês de outubro. Parte da renda será revertida para a ONG Amigas do Peito.
Lanche rosa ajuda a arrecadar fundos Foto: Cedida
  • Durante o mês de outubro, o grupo de apoio também está vendendo o Laço Rosa, que simboliza a campanha Outubro Rosa de Prevenção ao Câncer de Mama.
  • Realização de um sorteio na página do Facebook “Amigas do Peito Presidente Prudente”, de uma cesta de produtos cosméticos.
  • Campanha de arrecadação de produtos utilizados no trabalho com as pacientes, através das redes sociais. “Quem doar algum produto estará concorrendo a uma joia e a um óculos de sol doados pela Seiko Jóias. Para mais informações sobre como concorrer, entre em contato pelo telefone  (18) 3221-2656”, pontua.
  • Palestras, que normalmente aconteciam de forma presencial, em outubro, foram adaptadas para os meios digitais. Conforme a presidente, o objetivo da campanha é compartilhar informações sobre o câncer de mama, e, mais recentemente, câncer de colo do útero, promovendo a conscientização sobre as doenças, proporcionando maior acesso aos serviços de diagnóstico e contribuindo para a redução da mortalidade dessas doenças.

Mesmo com mais um ano de êxito na campanha, Cássia destaca as dificuldades e necessidades de adaptação, visto o momento complexo causado pela pandemia: “Nossa campanha sempre foi baseada em palestras presenciais, panfletagens, pedágios e atividades no calçadão de Presidente Prudente. Desta forma, para nos adequarmos a este momento, recorremos à campanha visual e à mídia televisionada, escrita, falada e também digital”, completa 

“Nada é difícil se for dividido em pequenas partes”

Outra entidade, levantada por esforços da sociedade prudentina e regional, é o HRCPP (Hospital Regional do Câncer de Presidente Prudente). A instituição sem fins lucrativos, em 2019, realizou 1.398 atendimentos de pacientes com câncer de mama e em 2020 foram 1.483 atendimentos.

“Todos os anos, o HRCPP realiza ações de prevenção como mutirões, atendimentos para tirar dúvidas e divulgação de informações por meio de palestras, notícias, vídeos, entre outros. Este ano, em razão da pandemia, não foi possível realizar abertura, palestras e mutirões. Portanto, o HRCPP preparou uma série de vídeos informativos com a equipe do Departamento de Ginecologia e Mastologia que estão sendo divulgados até o final da campanha”, explica a assessoria de imprensa da entidade.

Além disso, o hospital expõe dados que demonstram a importância e a emergência do acesso à informação, objetivo principal da campanha: “Essas ações preconizam a divulgação de informações por especialistas, buscando mudar o cenário do baixo índice de mulheres que participam do rastreamento. Segundo a SBM (Sociedade Brasileira de Mastologia), em 2017, apenas 24% das mulheres na faixa etária entre 50 a 69 anos conseguiram fazer a mamografia. Em 2018, esse número caiu para 22%”, expõe.

Em relação à informação, entretanto, algumas ações dão esperança. A própria essência comunitária do HRCPP demonstra que parcela importante da sociedade regional está ciente da importância de se ter um centro de referência no tratamento de tumores malignos tão perto de casa. É como na frase do empresário americano Henry Ford, “Nada é difícil se for divido em pequenas partes”.

Essa aspiração de referência já se converte em protagonismo e pioneirismo. Em relação ao câncer de mama, o HRCPP, no âmbito da pesquisa, realizou, em janeiro deste ano, a primeira cirurgia utilizando exoscopio e por fluorescência no Brasil. Entre os benefícios da técnica, estão: a visualização da drenagem linfática em tempo real; menor risco de alergia e de a mama ficar corada definitivamente; e menor tempo cirúrgico.

Rafael Sá conduz a primeira cirurgia Foto: Cedida

A cirurgia foi realizada pelo mastologista Rafael Sá e faz parte de uma pesquisa de autoria do médico. Segundo o mastologista, a biópsia do linfonodo sentinela é uma técnica cirúrgica para o câncer de mama que visa evitar a linfadenectomia, que é a retirada de todos os linfonodos axilares, uma cirurgia mais agressiva que pode gerar mais riscos e implicar na piora da qualidade de vida das pacientes.

 

“O amor não se vê com os olhos mas com o coração”

Por último, é hora de falar de outro projeto de Presidente Prudente que se dedica a levar conforto, em forma de coração às pessoas que realizaram a cirurgia de retirada da mama: O “Almofadas do Coração”. “O projeto tem como objetivo atender pacientes que fazem procedimentos mamários, homens e mulheres, oferecendo a eles uma almofada em formato de coração, com recomendações médicas, que vão  auxiliar no alívio da dor e evitar linfoedemas [inchaço causado por uma obstrução do sistema linfático], dando conforto na região do braço e ombros, além de ser um gesto de carinho num momento no qual o paciente precisa saber que está sendo cuidado”, conta a coordenadora do projeto Sônia Alves Macedo, 64 anos.

 

Sônia coordena o projeto que produz corações de tecido para doação desde 2015 Foto: Cedida

 

Ela afirma que começou sozinha a confecção das almofadas, e hoje já conta com quase 30 pessoas envolvidas desde a escolha dos tecidos e fibras, até a entrega hospitalar. O grupo atende o HR (Hospital Regional) Doutor Domingos Leonardo Cerávolo, Hospital Iamada, Santa Casa de Misericórdia de Presidente Prudente e o HRCPP. “As entregas são feitas sempre no dia seguinte da cirurgia, no leito hospitalar. Devido a pandemia, estamos abastecendo os estoques dos hospitais e as entregas estão sendo feitas pelo corpo de humanização ou enfermagem. Também enviamos almofadas para todo os Estados do Brasil, onde nos são solicitadas”, destaca Sônia.

“Quando comecei, em setembro de 2015, eu achei que fosse apenas uma curiosidade minha. Mas, depois, em 22 de dezembro de 2015, a família descobriu  que minha irmã estava com câncer de mama. Acredito que essa luz que eu tive, em setembro, já foi Deus dando um caminho para que eu continuasse com o projeto. E agora eu vejo que realmente aquilo foi um dos motivos maiores para que hoje eu continue com o Almofadas do Coração”, conta a coordenadora, certa de que há razão na frase celebre do dramaturgo William Shakespeare, “O amor não se vê com os olhos, mas com o coração”.

O grupo, conforme Sônia, sobrevive de doações e anualmente faz o Chá da Tarde com sorteios de prêmios doados pela sociedade, de onde tiram proventos para sobrevivência do projeto. “Aproveitamos a oportunidade para pedir ajuda e colaboração de todos”, conclui.

Para não passar o Outubro Rosa em branco durante a pandemia da Covid-19, o grupo, além de continuar a entrega das almofadas, tem publicado relatos inspiradores de mulheres que passaram pelo câncer de mama, em suas redes sociais. O Facebook do projeto é “Almofadas do Coração PP”.

Nunca é demais: mais um relato inspirador 

Dez anos após cirurgia, Cheila crê que tomou a decisão certa Foto:Cedida

 Para as mulheres, a cuidadora Cheila Silva, 51 anos, com conhecimento de causa, visto que enfrentou o câncer de mama, orienta que se amem mais, que olhem para dentro de si, que amem elas primeiro, “porque a vida, apesar dos tropeços, é muito boa e merece ser vivida”.

A batalha de Cheila começou em 2010, quando, ao retornar de um dia no sítio, ao tomar banho, ergueu os braços e notou um “defeito, uma saliência”. Ela procurou um médico no outro dia e depois de consulta, soube que era realmente um nódulo e que com exames seria possível detectar o tamanho e malignidade.

“Não aceitei muito bem. Entrei sozinha no consultório dela e tive uma crise de choro”, recorda. Naquele mesmo dia ela foi encaminhada para um Hospital onde fez todos os exames , só não de gravidez, e era esse que mudaria a história de sua vida.

Grávida de 15 dias sem saber e com diagnóstico de câncer, Cheila operou do tumor. Só descobriu a gravidez quando já havia feito a terceira quimioterapia. “Aí fiquei desesperada, porque disseram que talvez meu menino iria nascer sem cérebro, sem partes do corpo ou com alguma síndrome. Fiquei sem saber o que fazer, porque é uma vida que eu carregava dentro de mim. Eu tinha que escolher entre a minha saúde ou ele. Se eu escolhesse ele, teria que interromper meu tratamento, sendo que ainda tinha uma “quimio” para fazer e mais 20 radioterapias”, relata.

Ela decidiu interromper o tratamento. Teve o filho que nasceu sem qualquer sequela. Hoje ele tem nove anos. Depois o nascimento do menino, os únicos tratamentos que fez foi o uso de medicamento por cinco anos e o acompanhamento médico e com mamografia. Já com dez anos desde o descobrimento do tumor, Cheila vive a vida normal, fazendo mamografia anualmente, como qualquer mulher em sua idade.

Um anagrama possível da palavra mama é amam, e o amor se faz presente nesta e nas outras histórias que compõem essa reportagem. As mães que amam seus filhos, as mulheres que amam umas às outras e por isso ajudam e levam suas experiências adiante para orientar e confortar. O verdadeiro amor puro, do apoio, do voluntariado.

 

SAIBA MAIS

Fundado em abril de 1996, o Grupo de Apoio Amigas do Peito possui uma sede com voluntárias de plantão para atendimento às pacientes e ao público em geral.

Conforme a necessidade de cada uma das pacientes, são distribuídos gratuitamente sutiãs com enchimentos, lenços, materiais informativos e empréstimos de peruca. Funciona também, na Sede, um brechó permanente, de segunda a sexta-feira, das 14 às 17hs.

São realizadas reuniões mensais, em geral, todo último sábado do mês, onde são proferidas palestras por diferentes profissionais, abordando temas de interesse do Grupo. Também são realizados passeios, festividades e atividades recreativas, que informam e entretém as pacientes. Oferece ainda cursos de artesanato.

Antes da alta hospitalar, são realizadas visitas às pacientes operadas. O Grupo presta esclarecimento à população sobre a doença com a realização de palestras e participação em campanhas educativas, e faz das pacientes grandes amigas, que combatem juntas as dificuldades ocasionadas pela doença e o tratamento.

SERVIÇO

O telefone do Grupo de Apoio “Amigas do Peito” é (18) 3221-2656. O endereço da sede do grupo é Rua Dr. Gurgel, 1202, Centro de Presidente Prudente.

Já o Projeto Almofadas do Coração pode ser contatado pelo telefone da coordenadora Sônia Macedo, (18) 98139-9627 ou (18) 3907-1714.

 

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