ME APOSENTEI, E AGORA?
Nesta reportagem multimídia da Revista Prisma você vai ver que a terceira idade está cada vez mais ativa. Vamos mostrar diferentes exemplos de idosos que provam que a idade avançada não os limita de viver a vida fazendo aquilo que gostam.
Por: Daniellen Campos, Deilson Bispo, Isabela Rocha, Karine Andrade, Nathália Moura e Maria Fernanda Ferreira
Maria Martins, de 76 anos, quando criança trocou as bonecas por trouxas de roupas, sabão e espuma. Começou a trabalhar com 11 anos, lavando roupa na beira do rio. Aos 15 anos trocou a bacia pelo roçado, começou a carpir café. Trabalhava para ajudar nas contas de casa. Casou aos 19 anos e com isso também parou de trabalhar.
Vieram os filhos, as despesas e a necessidade de voltar a por a mão na massa. Com 25 anos voltou a trabalhar como boia fria.
Em 2004, com 63 anos ela se aposentou e se engana quem acha que ela parou por aí. Maria continua trabalhando como passadeira. “Trabalho porque eu gosto, e as pessoas para quem eu trabalho gostam do que eu faço e pedem para eu continuar”, diz.
E quando perguntam se ela gostaria de parar, ela logo retruca: “Já acostumei a trabalhar, e ficar em casa para fazer só os serviços do lar não me agrada”, ressalta.
“A velhice não é obstáculo. Eu gosto de trabalhar, gosto de cantar, gosto de andar. Ando da minha casa até a igreja, todos os dias que tem culto [cerca de 1km]. A única coisa que me impede é a chuva, isso se estiver bem forte”, finaliza dona Maria que mesmo com 76 anos ainda possui a mesma alegria e coragem da menina que cantava enquanto as espumas sumiam na curva do rio.
Selma Martins, 41, filha de dona Maria diz que hoje em dia o trabalho de sua mãe é mais uma ocupação sem dias e horários pré-determinados. Serve apenas para ela se manter fisicamente e mentalmente ativa. “Ela se sente útil e satisfeita de poder ajudar e contribuir com algo ou alguém e acaba ficando totalmente em segundo plano o ganho financeiro que obtém”, explica.
Selma ainda garante que a família nunca pensou em fazer ela parar de exercer a atividade, pelo contrário. “Como isso acaba fazendo bem para ela, os familiares apoiam”, afirma.
Para ela os idosos que gostam e tem disponibilidade para trabalhar, sendo esse trabalho relacionado a uma questão de se sentir útil, ativo dentro da sociedade e não uma obrigação é “um ganho que vai muito além da parte financeira e sim da qualidade de vida”, finaliza.
IDOSOS 6.0
Quando era mais novo o atletismo era apenas uma brincadeira de garoto. Após o casamento e tendo que trabalhar para cuidar dos filhos, Aparecido Crespo, de 65 anos, se viu mais distante de continuar.
Em 1986 ele saiu de Santo Anastácio para Teodoro Sampaio e sua rotina era resumida ao trabalho de tapeceiro. Com o tempo ele percebeu que as dores eram constantes e viu aí a oportunidade de voltar para o mundo do esporte para melhorar.
“Para correr um quarteirão era quase impossível e ouvia direto que atletismo era coisa de quem não tinha o que fazer”, porém ele completa dizendo que o posicionamento negativo das pessoas só o incentivou a continuar. “Está sendo bom para mim e para minha saúde, tenho 65 anos, mas não tomo nenhum remédio. O importante é que em todas as corridas eu estou no pódio”.
O atletismo já levou Aparecido para Florianópolis, Curitiba, Maringá, Marília e Cornélio Procópio, cidade em que ele competiu pela primeira vez como atleta no ano de 1997. Lá se classificou em terceiro lugar e do pódio disse: “Um dia eu volto aqui e vou ser campeão”, no ano seguinte ele cumpriu.
Já são mais de 600 medalhas e troféus, já correu a São Silvestre (uma maratona de 15 quilômetros de rua realizada anualmente na cidade de São Paulo) nove vezes e sua melhor colocação foi em sexto lugar.
Seu sonho ainda é poder correr os 21Km em Poços de Caldas, porém, a falta de apoio e patrocínio dificultam a participação.
“O esporte é bom para todo mundo e engana-se quem acha que há mais jovens do que pessoas da terceira idade que praticam”. E completa que em competições regionais chega a 4 mil atletas da terceira idade, em modalidades como vôlei adaptado, xadrez, atletismo e dança.
Sua última medalha conquistada foi no início do mês de setembro, em Marília. De acordo com ele, a próxima conquista será no circuito realizado em Toledo, no Paraná.
CONHECENDO O MUNDO
“Devemos nos desapegar de coisas materiais e partir para o mundo”, é o que diz Antonia Rodrigues Sartorello, que aos 71 anos já viajou para 15 lugares diferentes.
Antonia que mora em Presidente Epitácio, conta que já viajava antes mesmo de se aposentar e que agora viaja com amigos em excursão. Só no Brasil, ela já foi para Salvador, Costa do Sauípe, Manaus, Foz do Iguaçu e Santa Catarina.
Só que para Antonia o Brasil não era o suficiente. Ela já viajou para o Exterior muitas vezes. “Cancún, Barcelona, Áustria, Cairo no Egito, Dubai, Abudabi, Buenos Aires, China, Nova York e Roma”, ela ainda completa dizendo que em uma de suas viagens, ela foi “um dia para Roma e no outro dia já estava em Nova York”, conta.
Sobre o lugar que mais gostou de conhecer ela diz que gostou de todos, pois, cada um possui sua particularidade. Porém, o Egito, Dubai e das Muralhas da China, possuem um lugarzinho especial em seu coração. “São culturas bem diferentes e que conquista a gente”, explica.
Viajar para ela é uma terapia e por isso não pensa em parar tão cedo. Neste ano ela pretende viajar novamente, “talvez o próximo destino seja alguma praia em Santa Catarina”, finaliza.
NOVOS IDOSOS, VELHOS DESAFIOS
A psicóloga Maria da Guia dos Santos, explica que a forma como o idoso é visto por sua sociedade é cultural. “Em várias culturas asiáticas o idoso é respeitado por sua sabedoria adquirida ao longo da vida. Em outras culturas isso já não ocorre”. Ela ainda explica que no Brasil, a aposentadoria sempre foi “sinônimo de fim de carreira, tempo para parar e de alguma forma refletia a inutilidade do idoso, que deveria passar seu tempo jogando truco com os amigos na praça e as mulheres tricotando e fazendo doces para os netinhos”, completa.
Hoje o perfil do idoso é diferente. São pessoas que buscam continuar no mercado de trabalho, muitas vezes por necessidade extrema ou apenas porque buscam qualidade de vida. “A sociedade por sua vez, ainda não reconhece o idoso como alguém que necessita de cuidados e valorização”, exclama Santos.
A psicóloga ainda explica que o idoso que produz e que pratica atividade física é muito mais saudável tanto fisicamente como mentalmente. “É preciso que se entenda que não somente o idoso deve praticar atividade física e ter uma função ativa na sociedade, isso é uma necessidade humana, que deve ser praticada durante toda a vida”, completa.
“As pessoas têm medo de envelhecer, para a sociedade atual representa o fim. E é isso mesmo. No entanto, há o que se fazer quando a velhice chegar”, explica. Ela ainda ressalta que as fases da vida precisam ser vividas e fazem parte das etapas do desenvolvimento humano.
“A velhice é a última fase do desenvolvimento humano e deve ser respeitada, principalmente pelos próprios idoso que precisa, algumas vezes, aceitarem sua nova condição e pela sociedade que deve reconhecê-los como capazes e ao mesmo tempo lhes conceder os direitos que possuem e atender suas necessidades humanas e próprias da idade”, conclui.
Para a geriatra Fernanda Lopes de Andrade, a sociedade está começando a se conscientizar que todos irão envelhecer um dia. “Muitas famílias ainda são sustentadas pelos idosos e eles estão conseguindo um novo espaço mais amplo na sociedade”, diz.
Alguns idosos não querem somente se aposentar e ficar em casa sem fazer nada, por isso alguns continuam a trabalhar, viajar, praticar esporte e fazer suas coisas do dia a dia e assim devem se cuidar, se alimentar bem, tomar muita água e nunca deixar de fazer atividades.
A geriatra diz que as doenças mais frequentes da terceira idade são “a depressão, diabetes, hipertensão arterial e as mais graves são Parkinson e a doença de Alzheimer”. E quanto mais o idoso desenvolve outras atividades os riscos de doenças vão diminuir, “por isso é sempre bom ler, escrever montar quebra cabeças, fazer palavras cruzadas e caça palavras e claro ter mais tempo para se cuidar”, conclui.
Hoje na cidade de Presidente Prudente segundo o IBGE(Instituto Brasileiro de Pesquisas e Estatísticas), Censo Demográfico 2010 existem cerca de 207.610 de pessoas residentes na cidade e de 28.245 dessas pessoas são idosos a partir de 60 anos e a maioria são mulheres.
Na sociedade de hoje os idosos na realidade têm muito mais experiências de vida e segundo a geriatra Fernanda eles estão se inteirando sobre assuntos que antes eram tabus como sexualidade, gêneros e outros assuntos que estão na discussão na atualidade. ” Muitas vezes me surpreende a maneira que eles se portam frente aos novos tempos, sempre de forma positiva” ressalta.
Independentemente do que a sociedade pensa, os idosos de hoje estão se mostrando ligados a todos os tipos de assuntos, estamos presenciando uma terceira idade moderninha.