Isabela Gomes, Nathália Prado, Rayane Pedroso e Vinícius Antunes

DÊ LIBERDADE PARA AS MUDANÇAS

Sensações, modo de vida ou até uma paixão. A moda faz parte do cotidiano e representa a sociedade em seus vários processos ao longo dos anos. Não é difícil associar uma década histórica a um estilo específico, um filme que marcou sua adolescência aquele figurino ou momentos inesquecíveis ao que estava vestindo. As peças podem tornar visíveis personalidades que muitas vezes estavam escondidas, mostrar ao mundo quem você é e libertar sentimentos antes nunca demonstrados. Roupas marcam momentos e, mais que isso, podem transformar por meio da liberdade.

Veridiana Ferreira é coordenadora do curso de Design de Moda na Unoeste, ela explica que a moda sofre reflexos sociais e representa cada um por meio do estilo. Dos mais clássicos aos mais criativos, os looks são uma forma de expressar sensações e emoções das mais variadas, não sendo algo fútil ou raso, mas uma forma também de entender os anseios da sociedade.

"Quem não conhece a moda acha a moda superficial, se fosse tão superficial e fútil, não estaríamos de roupa quase 24 horas por dia.”

Veridiana Ferreira

Dessa forma, podemos pensar que a moda transforma? Para Amanda Lima, sim. A blogueira de moda não se considera com um estilo definido, pois, apesar de acompanhar as tendências, não se limite a elas. Aos 33 anos, demonstra suas inseguranças pessoais no perfil do Instagram com mais de 20 mil seguidores, porém, é totalmente diferente com as roupas, não tem medo algum em montar o visual e ousar nas peças.

Com dois irmãos mais novos e um diagnóstico de síndrome do pânico aos 9 anos, a moda foi a forma encontrada de chamar atenção e achar seu espaço no mundo, transformando suas inseguranças em confiança, desde os lenços estilosos com dois anos de idade, até se tornar referência para os amigos e familiares quando necessitam de conselhos e indicações. Suas próprias referências são a estilista Schiaparelli, a apresentadora Sabrina Sato e seu pai, Valter Lima.

Pelo último tem um carinho especial, além do laço sanguíneo e conexão fraternal, compartilham a mesma data de nascimento. Valter foi o responsável pela inspiração de a fazer entrar no mundo da moda, pois, segundo a filha, sempre foi “diferentão”, não gostava de ter peças iguais a de outras pessoas, então customizava tudo que podia.

Já Corina Lima tem um estilo mais clássico, o completo oposto da filha Amanda. Quando a blogueira se mostra despreocupada com o que vão pensar de suas roupas e sem medo de ousar, a mãe logo intervém dizendo que sim, é preciso ter medo de algumas coisas. Essa preocupação da mãe é confirmada por Amanda quando conta que, em alguns momentos da sua vida, era questionada por Corina: “nossa, mas você vai sair com isso”, sem pensar duas vezes concordava, afinal, essa é sua personalidade.

Ela acredita na liberdade, que a roupa usada expressa seus sentimentos e personalidade, que todos podem e devem usar o que se sentem bem, sempre respeitando suas inseguranças, mas buscando superá-las.

"Eu sempre falo a mesma coisa: A gente só tem uma vida, como a gente não vai se expressar? A gente não vai se expressar com a nossa roupa, com nosso estilo?”

Amanda Lima

 Mas, afinal, a moda realmente liberta?

LIBERDADE OU ÚNICA OPÇÃO?

Às vezes ela é cômoda, às vezes se resume ao que serve e ao que tem disponível, às vezes é somente por necessidade e o que era para ser algo divertido consigo mesma passa a ser o único momento em meio a correria do dia a dia em que as inseguranças falam alto ao olhar-se no espelho. As vezes que Andressa Passos deixou de usar algo que goste são incontáveis. 

A aluna de Publicidade e Propaganda da Escola de Comunicação e Estratégias Digitais da Unoeste, que antes se arriscava em cores e estilos diferentes, hoje opta pelo confortável, pelo que “dá”. Ela já passou por diferentes estilos que marcaram momentos de sua vida, mas, atualmente, define seu gosto para algo mais tradicional, urbano. Andressa, contudo, sempre pensa duas vezes ao usar um cropped e não sente ânimo ao fazer compras. Guarda consigo roupas e calçados que pretende voltar a usar quando perder peso e, espera com isso, usar não só o que “pode”, mas também o que quer. 

"Eu guardei todas roupas que eu tinha antes de engordar, pra poder voltar a usar.”

Andressa Passos

A dificuldade da liberdade na moda começa consigo mesmo e vai além da aceitação. Ela surge do autoconhecimento, do seu gosto, do seu corpo, das proporções, das cores e das possibilidades. Ane Brito, modelo e consultora de moda plus size, reforça que ainda há muito o que evoluir na produção de roupas acima do tamanho 50.

O movimento de quebra de padrões mudou bastante o mercado para roupas de números maiores. Já é possível encontrar algumas possibilidades de estampas e roupas curtas/justas, porém as cores escuras, cortes sem graça e que não favorecem o corpo, ainda prevalecem. Isso, por falta de conhecimento, reconhecimento e preparo por parte da indústria da moda.

"Por não conhecer a dor de ser gordo, não conseguem entender que existem manequins maiores que 46.”

Ane Brito

O termo “plus size” é algo que divide opiniões. Para Andressa e Ane, traz à tona o ar de exclusão. A consultora de moda admite que a separação nas lojas facilita a procura, mas que há outras formas de fazer isso, dividindo por modelo, por exemplo.

A estudante trabalha em uma agência publicitária da cidade e conta que um dos clientes do ramo da moda tem uma campanha especial de modelos plus. Porém, o irônico de tudo isso é que muitas vezes as pessoas escolhidas para a campanha não representam de fato o tamanho descrito. Seria, para ela, incrível se normalizassem de vez o corpo gordo e qualquer tipo de roupa para ele, sendo ela curta, colada ou colorida.

De acordo com a estilista Veridiana, as tendências são pensadas e planejadas com dois anos de antecedência, a partir da paleta de cores, tecidos e modelagem, por exemplo. Ela conta que todo o processo é feito por meio de análise comportamental, econômica, política e cultural, possibilitando o diálogo com os desejos do consumidor. A moda é útil e fundamental, pois você se apresenta da forma que se veste.

Este padrão pré-planejado da indústria é questão de escolha do consumidor, porém pode influenciar pensamentos e comentários de forma automática no dia a dia. Andressa conta que, às vezes, sem perceber, quando sua filha Bianca quer usar algo diferente, acaba questionando: “o que as pessoas vão achar?” Aí percebe que, por um instante, foi refém dos julgamentos.

Ane entende a moda como uma ferramenta da construção de imagem e reflexo da sociedade. No período de “pós-pandemia” já se vê nas roupas muito do que este período provocou. Menos saltos, roupas mais confortáveis, estampas de praia e outras que trazem lembranças do que as pessoas deixaram de viver. Quando se é fiel ao estilo e a si mesmo, é mais fácil encontrar algo, afinal a moda liberta se você souber usar ela a seu favor. Ser fiel a tendências não a torna libertadora.

"A moda tem libertado as pessoas hoje em dia, mas ainda há muitos padrões impostos.”

Veridiana Ferreira

Os números refletem não apenas corpos diferentes, mas uma discrepância muitas vezes abusiva em relação a preço. O corpo gordo demanda mais atenção em questão de qualidade para ter durabilidade. Devem ser considerados tecidos, aviamentos, corte e, quando realmente há essa preocupação, são justificáveis os valores, explica a consultora. O que acontece muito é a reprodução das peças em diferentes tamanhos para gerar marketing de pertencimento, o abuso do preço e a mínima importância com quem irá consumir e com os prejuízos que as pessoas podem ter. Aceitar essas condições passa de comodismo para única opção.

O QUE AS PESSOAS QUE USAM MID/PLUS SIZE TEM A DIZER?

Opinião de consumidores sobre as cinco lojas de roupas que mais faturaram no Brasil em 2021*.

*Segundo ranking Ibevar FIA 2021 no quesito “Moda e Esporte”. Os gráficos foram produzidos a partir de um questionário que reuniu respostas de 45 pessoas de 18 a 55 anos.

VOCÊ É O SEU ESTILO

Encontrar uma peça que te agrade não se trata somente do conforto, mas também da própria representatividade. Por mais simples e “normal” que um estilo possa parecer, as particularidades de cada um os tornam únicos. Amarrar a camiseta, pendurar lenços na calça, usar uma parte da blusa dentro do short, uma maquiagem colorida… São infinitas as possibilidades e talvez o erro seja achar que o “normal” existe.

Maryana Lima, Lion Gabriel e Mila Rand são normais dentro da sua própria liberdade. Cada qual com sua identidade, com seus valores e suas verdades.

Comunicativa, extrovertida e delicada sem deixar de ser forte, Mary é o pontinho cor de rosa da sua roda de amigos. A cor combina com seu sorriso, e a positividade que transmite mesmo sem querer, concretizam sua percepção de vida. Não tem como viverem por você e, por isso, não faz sentido deixar que momentos ruins tomem conta por muito tempo.

Lion não tem pressa de mudar, desde que não desanime de alçar sempre voos maiores. Os olhares de julgamento são só olhares, buscar sua autoaceitação é um processo difícil e você precisa enxergar além do que as pessoas estão acostumadas ver.

Já a Mila vive de momentos. Viaja muito e carrega na mala as roupas que mostram quem é. Possui animação, diversão e muitos de talentos, também não tem medo da negatividade, depois de perceber que ela te persegue independentemente de como esteja. O ideal é ir em frente, aproveitar e deixar que o tempo perdido seja de quem parou para te julgar.

O rosa nem sempre é o exterior de alguém frágil demais, o preto de alguém fechado e quieto ou o colorido de uma pessoa ousada e sem problemas. São gostos, cores, recortes, tecidos, representações, lutas, características, símbolos, são visões diferentes de bonito e feio e uma oportunidade de dizer muito sem proferir uma só palavra.

MUDANÇA CONSTANTE

Mostrar sua personalidade por meio da moda pode ser divertido e tem quem a mude a todo momento. Vestir algo novo quase todos os dias, pensar em algo diferente que público goste, sentir-se livre em cima do palco e contribuir para a liberdade dos outros. Essa é rotina da Dooda Wesker, drag queen há 4 anos, com sua jornada dupla entre o shopping e a boate.

Dooda trabalha algumas noites da semana em uma balada de Presidente Prudente, como hostess, ajuda a servir bebida, faz o contato com as pessoas e performa. Ela quem fala, ouve e percebe o que os clientes estão sentindo e, por isso, procura estar sempre bem para transmitir felicidade.

Desde as roupas à maquiagem, tudo feito pelas próprias mãos, pensa nas cores, no tema da noite, no que a representa e no que quer passar. Extrovertida, animada e livre. Seu sonho é um dia ser reconhecida nacionalmente pelo trabalho e autenticidade.

Victor Santos é assistente de vendas e ajuda em diversas funções em uma loja de sapatos do shopping da cidade. Formado em Jornalismo e Design de Moda, tem a comunicação e o dom com os tecidos nas mãos.

Chega em casa em torno de 22h30 e, do banho, caminhando pela casa já na ponta dos pés, cronometra o tempo para se arrumar e seguir o segundo tempo de trabalho. Introvertido, tímido, quieto. Percebe que sua característica em comum com Dooda é a generosidade e o fato de enxergar o outro de verdade.

Ambos representam metamorfoses puras vindas da mesma pessoa, a liberdade de usar e ser o que quiser, como e quem quiser, em busca de reconhecimento, respeito e educação. Do básico ao colorido e brilhoso, do dia para a noite, falando, cantando, dançando ou não dizendo nada.

A liberdade está dentro de cada um, as roupas podem aprisionar ou tornar livre. Comentários, julgamentos e falas externas sempre existirão, mas o importante de verdade, é estar bem consigo mesmo. Mude, seja você, se divirta com as roupas e liberte-se assim que estiver pronto, como uma borboleta que sai do casulo e vive a melhor fase de sua vida.

Voe pelas metamorfoses da Prisma

MUDANÇA DE VIDA

Já imaginou sua vida de ponta cabeça? Mudar de emprego, ser mãe, lutar contra um vício e até mudar a personalidade são transformações drásticas de vida. Será que essa borboleta voa no final?

CORPO

Todos possuem características únicas e especiais. O primeiro passo para começar a sua metamorfose é a aceitação. Pode parecer um processo difícil, mas, com apoio e dedicação, pode ser divertido.

SEXUALIDADE

Mutável e singular para cada indivíduo em diferentes fases da vida. Conheça histórias de pessoas até o conhecimento, a conquista de poder ser quem é e pelo direito de se expressar sem medo.

TERCEIROS

A arte, a educação e o esporte, junto a pequenos atos, são capazes de transformar vidas. Conheça quem acredita no poder de mudança e que faz a diferença na trajetória de outras pessoas.

FICHA TÉCNICA

TEXTOS

Rayane Pedroso

Vinícius Antunes

FOTOGRAFIA

 

Captura

Isabela Gomes

Vinícius Antunes

 

Edição

Vinícius Antunes

ÁUDIOS

 

Reportagem/Roteiro

Nathália Prado

 

Edição

Rayane Pedroso

CAPA

Nathália Prado

Rayane Pedroso

INFOGRÁFICO

 

Pesquisa

Isabela Gomes

Nathália Prado

Rayane Pedroso

Vinícius Antunes

 

Arte

Rayane Pedroso

VÍDEOS

 

Produção

Isabela Gomes

Nathália Prado

Rayane Pedroso

Vinícius Antunes

 

Reportagem

Isabela Gomes

Vinícius Antunes

 

Cinegrafia

Nathália Prado

Rayane Pedroso

Vinícius Antunes

 

Edição

Vinícius Antunes

 

Arte e videografismo 

Nathália Prado

Rayane Pedroso

Apoio técnico

Adriano Batista

Ailime Haidamus

 

Supervisão de áudio

Homero Ferreira

 

Supervisão de dados

Maria Luisa Hoffmann

 

Supervisão de redes sociais

Roberto Mancuzo

 

Supervisão de texto e fotografia

Fabiana Aline Alves

 

Supervisão de vídeo

Thaisa Bacco

 

Edição final e supervisão

Fabiana Aline Alves