RELAÇÃO ENTRE JOVENS E LEITURA ESTÁ CADA VEZ MAIS DISTANTE, SEGUNDO ESPECIALISTA

Doutora em Educação e escritor prudentino lamentam a perda pelo hábito de leitura, enquanto Associação tenta incentivar o ato através de investimentos

Por: Amanda Brito, Daniel Lucena, Michele Santos, Stephanee Melo e Thaís Luz

“Um rolo compressor de apatia está passando por cima dos jovens”. É isso que diz o escritor Aurélio Gimenes, poeta prudentino veterano da literatura, quando questionado sobre a relação entre o público de 18 a 24 anos e a leitura.

O escritor, que há 51 anos escreve poesias, está preocupado com o rumo dos jovens leitores. Quanto a sua escrita, ele revela que a inspiração encontra-se no sentimento e na natureza. Aurélio já venceu por duas vezes o concurso anual “Augusto dos Anjos”, em Minas Gerais. Além disso, também venceu, novamente por duas vezes, o Mapa Cultural Paulista, em 2006 e 2007.

Em razão de seu histórico, não é difícil para ele analisar com propriedade o cenário que diz respeito ao jovem enquanto leitor. Gimenes acredita que a impressão que fica é que perante a todo o avanço tecnológico que vivenciamos, a juventude simplesmente perdeu o interesse em ler.

Quem concorda com o escritor é a doutora em Educação, Onaide Schwartz Mendonça. Para ela, o hábito da leitura infelizmente parece estar cada vez mais distante. Dentre os problemas que a doutora relata, o que chama atenção é, segundo a ela, uma espécie de ‘comodidade’ de leitura, que acaba alienando as pessoas de forma geral.

“Com a internet, o que vemos são pessoas leitoras de manchetes, o que as tornam superficiais e sem um domínio do assunto em questão”, revela.

Segundo ela, o maior problema atual está no sistema de educação do governo em esfera federal e estadual. Ela conta que o sistema de ensino em que se investe não prepara o aluno ‘nem para ler e nem para escrever’, o que consequentemente elimina a possibilidade do interesse pela leitura.

“O sistema precisa mudar urgentemente. O que vem acontecendo é desesperador. Estamos formando uma leva de imbecis”, diz.

Na tentativa de conter este desespero, a Associação Prudentina dos Escritores (APE) é um exemplo de investimento na literatura local. Através de reuniões e divulgações dos trabalhos de artistas de Presidente Prudente e região, com foco na literatura, o grupo é destaque no meio cultural, numa tentativa de driblar a desvalorização da cultura, a falta de espaço dentro do âmbito regional, assim como mostrar a arte como um trabalho realmente profissional.

O presidente da Associação, Carlos Freixe, relata que além dos problemas citados pela doutora Onaide e pelo escritor Aurélio, um outro ponto que precisa ser trazido a tona é a falta de profissionalização da arte.

“Muitos que buscam a arte acabam não encontrando espaço dentro deste ramo, porque ele não é encarado, infelizmente, como algo profissional. A partir disso, muitos acabam abandonando a vida de escritor, tornando-se, na maioria das vezes, professores, por afinidade da área”, explica.

Segundo Freixe, atualmente a associação conta com cerca de 50 escritores, sendo 30 deles os mais participativos. Ele comenta que fazer parte de uma associação que incentiva a literatura traz não só benefícios intelectuais, mas pode até mesmo ser um diferencial na hora de publicar um livro, pois muitas editoras manifestam interesses por quem faz parte deste tipo de projeto.

Por outro lado, quando questionado pela equipe da Reportagem como a associação se mantém, uma vez que não existem recursos de terceiros, conforme o próprio presidente, a resposta vem entre risos: “Boa pergunta. Essa nem eu sei dizer”, brinca.

O presidente conta que tudo acontece ‘na raça’. Os fundos são provenientes de investimentos próprios, o que desanima Freixe, muito pelo contrário. Segundo ele, a APE foi o movimento artístico que mais cresceu na região de Prudente no último ano.

O escritor Aurélio Gimenez também é exemplo de perseverança e jamais pensou em abandonar a escrita, isto porque, para ele, escrever é paixão de vida. Consequentemente, ler é algo indispensável para a sua existência. O veterano até confessa que, por vezes, a inspiração para escrever uma poesia se esvai, mas ela volta.

“Tem período de mais criatividade e tem período de menos criatividade. É natural. O que ocorre é que eu nunca sentei para escrever poesia. É a poesia que nasce pronta e eu apenas a transcrevo”, compartilha.

Segundo o escritor, seu processo criativo segue o padrão de muitos outros que também são adeptos da poesia: ela sai de dentro para fora, sem horário marcado.

Apesar de tudo, escrever e principalmente ler é uma questão de hábito, como todos bem sabem. Aliado a isso, o escritor revela que a esperança por dias melhores para a leitura e fortalecimento intelectual da comunidade em geral continua viva.

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