ESTETICAMENTE PADRONIZADO PELA MÍDIA

Ideal de corpo perfeito tem suprimido a beleza natural. É melhor ‘parecer’ belo do que ‘ser’ belo?

Por: Pamela Dias

Gorda, magra, alta, baixa, cabelos cacheados ou lisos? Na sociedade moderna as pressões sofridas pelos padrões estéticos impostos pela mídia levam muita gente à loucura. São regras e costumes que precisam ser alcançados para se ter realização plena, legitimação e aceitação social.

E não é de hoje que especialistas afirmam categoricamente: encarada como principal objetivo, a beleza física leva pessoas à escravidão dos modelos apresentados. Assim, ser belo torna-se menos importante do que parecer belo.

Segundo um estudo feito a pedido de uma marca internacional de sabonete, para uma campanha de grande repercussão nacional em que mulheres “fora dos padrões” estamparam as peças publicitárias, contatou-se que elas desejam estar bonitas, mas que seja algo mais próximo da realidade. 

A pesquisa, feita em 10 países incluindo o Brasil pela empresa Strategy One e com a colaboração de pesquisadores da Universidade de Havard, do Hospital de Massachussetts e da London School of Economics também revelou que as mulheres japonesas têm o maior índice de insatisfação física (59), seguidas pelas brasileiras (37), inglesas e norte-americanas (36).

Mas apesar de sempre estarem insatisfeitas com o próprio corpo, boa parte declarou incisivamente que ser bela inclui outros itens muito mais fortes e importantes de que em comparação a atratividade física. A beleza é derivada de aspectos como a gentileza, confiança, inteligência, humor, dignidade e, especialmente, felicidade. 

Liliane de Oliveira Silva, estudante de Gestão Empresarial, tem 1,56 de altura e já chegou a pesar 68 kg, hoje tem 60, mas declara que não está insatisfeita com seu corpo. “Beleza para mim é poder olhar no espelho e me sentir bem”. A estudante nunca fez dieta para emagrecer, mas diz que a mídia relaciona o peso com a beleza. “Não acho que preciso emagrecer por que todo mundo é magro. Peso ideal é relacionado a saúde”. 

E até que momento esta beleza ditadora é necessária? É sofrível ver que as pressões midiáticas tem massacrado a beleza natural. E aprisionada outros padrões que vão contra essa cultura dominadora.

Tira-se uma foto já pensando em retoques feitos nos programas de manipulação de imagem. “Não vai me deixar gorda, hein!”, “Minhas rugas não podem aparecer, ok”, são frases que revelam o psicológico manipulado, que rodeia a questão do que é belo. 

Em relação ao uso de tratamento de imagens Liliane diz que não vê objeção,  mas que é preciso tomar cuidado com o exagero. “Hoje mesmo eu vi um matéria em que a foto da atriz foi manipulada e seu corpo ficou muito estranho. Isso não é legal, fora da realidade. “

Francieli Oliveira, tem 22 anos e preocupa-se muito com sua aparência, faz academia, cursos de maquiagem e  tratamentos para pele e o cabelo. “Tenho sete estojos de maquiagem e acho que a mulher fica mais bonita quando está maquiada. ” Ela diz que procura estar com a boa forma em dia. “Faço academia a três meses e já perdi 4 kilos.

A mídia pode até imprimir um padrão, mas eu procuro os recursos de beleza para me sentir bem.” Com 1,72 de altura seu objetivo é chegar a 65 kg. “Não quero ficar magrinha. Só quero ter um corpo bonito mas com saúde. “

Outra visão

O servidor público Vinicius Wittica,  38, casado há 14 anos e pai de um menino de sete anos, declara que quando era mais jovem interessava-se por mulheres apenas por sua aparência física.  Mas que o tempo e a maturidade fez com que ele pudesse analisar a beleza de uma outra forma. “Entre namoro e casamento já estou com minha esposa há 20 anos, eu eu ainda acho ela muito bonita, mesmo com os sinais da idade.”

Segundo ele, o homem é levado principalmente pela aparência,  mas se a mulher tiver celulite, estria, não muda em nada sua beleza. “Eu aprecio o olhar, a forma de falar e as atitudes, esses pequenos detalhes eu nem olho”, conclui.

Contra cultura

Não considerado como religião, mas como seita, o paganismo é um termo usado nas tradições não-cristãs politeístas, onde se acredita que ser pagão é acreditar que a natureza como um todo é a “Terra Mãe”, onde cada elemento é representado por uma entidade sem precisar provar nada para ninguém.

Matheus Honório, estudante de Jornalismo, até seus 16 anos foi um cristão protestante que pertencia à uma Igreja Pentecostal. “Depois que eu me afastei da igreja, senti um conforto maior no paganismo e virei adepto”.

A Igreja Pentecostal é um movimento derivado do Cristianismo que acredita que o Espírito Santo exerce dons sobrenaturais que podem ser manifestados no dia a dia, como por exemplo, o dom de falar em línguas. O nome tem origem no relato contido no capítulo dois, em Atos dos Apóstolos, entre os versículos um e quatro, que fala sobre a descida do Espírito Santo sobre os discípulos no dia de Pentecoste.

Segundo Matheus, o paganismo não se preocupa em converter as pessoas. “Não atacamos os diferentes. Respeitamos a individualidade de cada um”. Ele também explica que se trata de uma crença não-cristã e politeísta, que acredita na existência de vários deuses. “Nossas práticas têm sempre uma explicação histórica, assim como nossos ritos. É uma forma de nos ligarmos à natureza, que é nosso ‘deus’, ou seja, a Mãe Natureza”.

Para ele, Deus não é citado como um ser superior. “Não cremos que exista vida após a morte ou reencarnação, acreditamos que vivemos aqui e quando morrer acaba-se a vida”. Para o estudante, um ponto positivo no segmento que pratica é não tentar converter outras pessoas, como acontece na maioria das outras doutrinas.

“Nós respeitamos as outras religiões, diferentemente dos ataques que sofremos, banalizar aquilo que nãos e conhece foge dos princípios de empatia”, conclui o pagão.

Além disso, Matheus conta que não existe um lugar específico – templo, igreja – para praticar a crença. “Qualquer lugar pode ser usado e edificado como templo para nosso encontros e ritos”.

Não é de hoje que o paganismo sofre com a ignorância em relação à prática. Em 2015, a inauguração de um Templo Satânico em Detroit, nos Estados Unidos, levava a estátua de Baphomet, um ídolo pagão de com forte presença no universo ocultista e que muitas vezes é interpretado como a versão católica do Diabo.