Na informalidade, trabalhadores conseguem pagar as contas

Atendendo em casa ou indo até o cliente, prudentinos ganham dinheiro com trabalho informal, mas perdem direitos. Conheça a vida de vários prudentinos que correm atrás de uma fonte de renda extra.

Por: André Santos da Silva, Jaqueline Ornelas Piva, Luana Carla Severo Mariano e Wellington José Camuci

Ser o próprio patrão pode ser o sonho de muita gente. Para muitos brasileiros essa é a única saída para conseguir pagar as contas do mês. Milhares de pessoas saem às ruas todos os dias em busca do sustento. São manicures, pintores, pedreiros, motoboys, diaristas, trabalhadores que assim conseguem sobreviver.

Os motivos para ser informal ou autônomo são diversos. Os principais são a falta de qualificação e a falta de experiência. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad – IBGE), no primeiro trimestre de 2018, a taxa de desemprego no país foi de 13,1 o que representa 13,7 milhões de pessoas acima de quatorze anos. No Estado de São Paulo, no primeiro trimestre, essa taxa era de 14, já no segundo foi de 13,6, somando aproximadamente 3,4 milhões.

Prestar serviços em domicílio é umas das formas que as pessoas encontram para ter uma renda. Gleiciane Santana de Moura, de 26 anos, está desempregada há um ano e meio e hoje trabalha como diarista em Prudente. O motivo que a levou ao serviço informal foi ser mãe muito cedo e não poder se qualificar para o mercado de trabalho. Casada e com dois filhos, ela conta que as faxinas que faz ajudam na complementação da renda da casa. 

“Já entreguei currículos em vários lugares e não consegui. Acho um meio [ser diarista] mais fácil por não precisar ter experiência em carteira”, comenta Gleiciane. Além das faxinas, ela também atende como manicure para complementar a renda. Recentemente, ela diz que diminuiu o número de clientes que atende como manicure para focar nas três residências em que trabalha como doméstica.

Gleiciane conta que está sempre à procura de um emprego com registro em carteira e salário fixo. Já entregou currículos em diversas empresas e está esperando a oportunidade aparecer. Ela fala que, como diarista, não pode contar com o dinheiro, pois só ganha o dia que trabalha. Se ficar doente, por exemplo, não vai receber nenhum benefício.

Outro objetivo de quem escolhe o trabalho informal é complementar a renda mensal. Angélica Santos, de 26 anos, trabalha em uma loja de atacado de roupas em Presidente Prudente e atende há três anos como cabeleireira em sua casa. No tempo livre, oferece serviços de escova progressiva, tintura e maquiagem. “Senti necessidade de uma renda extra, pois tenho um filho e sou mãe solteira. Só o meu salário não estava pagando as contas, então eu resolvi fazer”, comenta Angélica.

Como autônoma, Angélica conta que consegue em média R$ 500,00, o que varia conforme a quantidade de clientes que consegue atender no mês. “Quero muito ter meu próprio salão, mas para isso preciso investir em cursos, em materiais e no local. Eu gosto de trabalhar na loja, sou vendedora há oito anos, mas muitas vezes é uma atividade que não é reconhecida. Então, por mais que eu ame, quem sabe um dia eu não consigo ter algo meu”, conta.

E a escolha pelo trabalho informal não é só da Gleiciane ou da Angélica. O economista Eder Cansiane afirma que esse tipo de atividade tem se acentuado em Presidente Prudente. Para ele, o principal motivo está na falta de oportunidades de emprego e ressalta que esses profissionais, por mais que consigam ter uma renda, perdem a segurança garantida pelo trabalho formal, abrindo mão de direitos como: 13º salário, férias e seguro desemprego. Porém, ele destaca que os profissionais autônomos visam muitas vezes o lucro sem levar em conta o suporte proporcionado pela CTPS (Carteira de Trabalho e Previdência Social).

“Existem aqueles que não alcançam essa oportunidade e não podem ficar parados, já estão na fase de trabalho. Eles buscam em todos os lugares, mandam seus currículos e não são chamados. Assim, optam por um tipo de trabalho não efetivo, que vai garantir um dinheiro e, um trabalho momentâneo” explica. Cansiane diz que os prestadores de serviço e trabalhadores informais de uma maneira geral, movimentam a economia da cidade, pois por meio da sua renda consomem e fazem com que haja uma circulação da moeda.

Para o contador Renato Paes de Oliveira, o trabalho informal pode, às vezes, render um pouco mais financeiramente, mas pode ser um problema quando se pensa em segurança do trabalhador. “Ela perde direitos como auxílio doença, auxílio por acidente de trabalho etc.”, conta. Além desses direitos, ele diz que essas pessoas acabam perdendo também o direito à aposentadoria por não terem contribuição com a previdência social.

Não é só trabalhando por conta própria que as pessoas atuam no mercado informal. Oliveira explica que algumas empresas estão optando por outras maneiras de compor o quadro de funcionário, os chamados trabalhadores avulsos e os terceirizados.

Para ele, as empresas acreditam que essa forma de trabalho é mais vantajosa por não terem que pagar 13º salário, férias, fundo de garantia. “É uma falsa visão de lucro para a empresa. Se ocorre um acidente de trabalho, por exemplo, quem vai pagar esse funcionário?”, questiona. Renato explica que as empresas podem ter gastos ainda maiores e é melhor e mais seguro, para ambos, o trabalho formal.

JOÃO SALGADÃO

Acompanhe a rotina de trabalho do vendedor ambulante João Paulo Delatorre Soares, mais conhecido como João Salgadão, no centro de Presidente Prudente-SP.

A TRADIÇÃO

Um dos costumes mais comum dos prudentinos é marcado pelo trabalho informal. Conheça a história das pessoas que vivem financeiramente da feira da Manoel Goulart.

CAMELÓDROMO DE PP, O GANHA PÃO DIÁRIO DE COMERCIANTES NA CIDADE