Pandemia impacta, mas não paralisa ramo alimentício

Daniel Alvarez, Daniela Silva, Karoline Kol, Luana Souza e Melissa Andrade

Setor da alimentação foi um dos que não pararam mesmo durante a pandemia do coronavírus

Pegos de surpresa pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19), os mais diversos setores tiveram que parar suas atividades até que o surto da doença fosse controlado. No entanto, um ramo que é essencial para a vida humana e não pode de forma alguma ser interrompido, é o da alimentação. Sendo assim, o ramo de fato não foi paralisado, mas passou por adaptações, seja na produção rural, nos centros de distribuições, na comercialização para a população ou durante o transporte nas estradas.

CAMINHOS DA ROÇA

Mesmo com impactos notáveis em outros setores, a produção rural não foi afetada e nem enfraqueceu. Para José Pereira da Silva, de 47 anos, que é produtor de hortaliças há dez anos em Presidente Prudente, a situação foi inversa. Ele aponta que tanto a distribuição de alimentos como sua comercialização se mantiveram em igual nível mesmo com a chegada da pandemia e, mais que isso, chegou a faltar mercadoria. “Nessa época do ano normalmente vendemos dobrado e com a pandemia as vendas aumentaram ainda mais. Tive que pegar mercadoria de fora para suprir a demanda”, relata o agricultor.

A rotina do pequeno produtor rural que fornece alface, rúcula, couve, cebolinha, e outras verduras para mercearias e vendedores ambulantes da cidade, também não sofreu grandes transformações. Depois de trabalhar na roça, ele precisa levar as hortaliças para os pontos de distribuição onde finalmente serão comercializadas para a população. O processo de transporte dessa mercadoria se torna tão importante quanto seu cultivo, pois garante que o alimento chegue em boas condições no mercado. Assim também acontece com as grandes produtoras que transportam alimentos entre os estados brasileiros.

Afonso viajou mais de 2.000 km entre as cidades de Canto do Buriti/PI e Presidente Prudente/SP (Foto: Daniel Alvarez)

NAS ESTRADAS

Motorista há 31 anos, Afonso Felias Alves, 50, trabalha para uma filial da transportadora Join Transportes, no estado do Piauí. Apesar de já ter trabalhado de forma autônoma, ele conta que há seis meses optou por se tornar colaborador da empresa para assim ter mais tempo disponível para passar com a família.

Dentre os destinos de viagem dele, estão os municípios de Belém do Pará/ PA, Fortaleza/ CE,

Salvador/ BA e Presidente Prudente/ SP. A entrega que fez em território prudentino foi destinada ao Ceagesp, uma carga com melões. Para chegar ao destino, o motorista percorreu mais de 2.000 km, seu ponto de partida e coleta das frutas foi a cidade de Canto do Buriti, no estado do Piauí.

Segundo Afonso, a pandemia do coronavírus afetou a vida dos motoristas, porém tiveram que continuar com o trabalho, mesmo que agora de forma adaptada e com menos movimento. “A maioria dos restaurantes não atendem mais motoristas, vendem somente marmita. Então a gente tem que fazer a própria comida, porque marmita, você sabe como é, nunca se sabe o que tem dentro, então é melhor nós mesmos fazermos por segurança.”

As alterações nas vidas dos profissionais que atuam nas estradas não foram aplicadas somente para os transportes interestaduais. Alex Alexandre de Lima, 43, atua como motorista e vendedor na Chapéu Preto Comércio de Frutas, em Prudente. Para ele, aconteceu uma grande diminuição na venda e distribuição dos alimentos.

Os principais municípios que Alex costuma entregar os produtos são Jales, Marinalva, Aparecida D’Oeste e Pereira Barreto,

Alex atua como motorista e vendedor em uma empresa de frutas (Foto: Daniel Alvarez)

todos no estado de São Paulo. “Com a pandemia diminuíram bastante as vendas, principalmente por conta das escolas e do comércio na área central que ficaram fechados. Então ninguém estava trabalhando, ninguém saía para comer nos restaurantes, isso nos afetou bastante e diminuiu a venda consideravelmente.”

Além das vendas para escolas e comércios em geral, os distribuidores do Ceagesp também comercializam seus produtos para os feirantes, que revendem à população. Há ainda os feirantes que plantam os próprios produtos para vender, porém esses também enfrentaram adaptações.

GALERIA | A feira livre vive

NOVOS EMPREENDIMENTOS

Uma das soluções encontradas por Maria no fornecimento dos produtos foi a encomenda online (Foto: Melissa Andrade)

Apesar de um grande público ser adepto às feiras livres, ainda há quem prefira a sensação de conforto e segurança presente nos mercados. Maria Paula de Moraes Gonçalves, 34, é dona do TendTudo, um mercadinho em Pirapozinho que foi inaugurado há quatro meses, ou seja, já durante a pandemia. A oportunidade de abrir o comércio foi também uma surpresa para Maria, pois, por conta do novo coronavírus, a distribuição de mercadorias por parte de alguns fornecedores foi afetada.

“Muitos não vêm, alguns passam a cada 15 dias e outros não passam devido à pandemia, tem gente que eu já nem pego mais, acaba faltando produto e preciso buscar nos atacadões”, conta.

Na falta de entrega dos produtos, a opção adotada por Maria foi negociar direto com as empresas on-line. Entretanto, ela conta que prefere o contato com a mercadoria antes de comprar, pois dessa forma é possível ver o produto pessoalmente para tirar as suas dúvidas.

Considerado um serviço essencial, os mercados não pararam, e, apesar das mudanças na rotina, Maria destaca que não teve dificuldades no movimento. “É o que eu falo, o ramo de alimentação não parou. A gente até questiona porque os alimentos estão tão caros, sendo que foi o ramo que mais cresceu na pandemia. Conheço outros comerciantes que disseram o mesmo, estamos vendendo bem.” 

rachadura nos empregos

Apesar da abertura de novos empreendimentos, dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (PNAD) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que houve queda no número de contratos no ramo da alimentação e alojamento em relação aos anos anteriores.