ISOLAMENTO SOCIAL E AS CONSEQUÊNCIAS NO MUNDO DO TRABALHO

ISOLAMENTO SOCIAL E AS CONSEQUÊNCIAS NO MUNDO DO TRABALHO

Isolamento social e as consequências no mundo do trabalho

Desde o início da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), a rotina de vários trabalhadores mudou em diferentes segmentos. A transformação ocorreu de repente e sem que todos pudessem se preparar ou até mesmo realizar alguma capacitação para desenvolver suas atividades em casa. O meio que muitos empregadores adotaram, foi o home office, ou seja, escritório em casa, prática essa que causou muitas incertezas e medo para as pessoas que iriam começar esse novo modelo de prestação de serviço. 

Por: João Paulo Hercolino, Natália Feitosa, Pamela Lourenço e Richard Magalhães

De acordo com a Pesquisa da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), em parceria com a Fundação Instituto de Administração (FIA), há um grande potencial de expansão do trabalho em home office no Brasil. Revelou-se que tanto gestores como trabalhadores estão aprovando o trabalho neste novo formato, comemora-se a redução de custos pós-pandemia da Covid-19, em cargos de nível superior, gestores e professores.

Ainda de acordo com a pesquisa, os 1.566 trabalhadores ouvidos, todos em home office, reportaram altos níveis de satisfação com seu trabalho em casa e uma percepção de que seu desempenho foi impactado positivamente com esta modalidade. 70% afirmam que gostariam de continuar trabalhando em home office depois da pandemia; 19%, que não gostariam e 11% que são indiferentes.

Antes da pandemia, o trabalho do advogado Thiego Souza, 24, estava a todo vapor, com o número de clientes sempre grande. Ele conta que com o início dos protocolos de isolamento implementados na segunda quinzena do mês de março, esse cenário mudou radicalmente, por conta de incerteza que esse vírus trazia para a população. Thiego ainda ressalta que, de um modo geral, o maior impacto foi a redução de clientes, o que por si gera diminuição dos ganhos, mas também precisou adaptar a rotina de trabalho. “Basicamente, a adequação ao trabalho remoto foi a principal mudança, uma vez que nós advogados estamos acostumados com idas e vindas de reuniões, fóruns e escritório”.

 

Carolayne Barreto conta as mudanças dentro da sua profissão (Foto: Cedida/Arquivo pessoal)

“Dá para resolver bastante assunto pessoal [em home office], mas meu celular virou praticamente uma extensão do meu corpo, onde eu vou ele está atrás com a internet ligada 24 horas esperando algo chegar”.

De acordo com agente de organização escolar, o trabalho home office acaba desenvolvendo uma acomodação por parte dos alunos, pois eles acabam pensando que podem conversar ou tirar dúvidas a qualquer momento que se sentirem à vontade. Carolayne conta, por exemplo, que já recebeu mensagem de aluno às 2h da manhã e não importa se é dia da semana ou finais de semana.

MUDANÇA NA EDUCAÇÃO

Para a agente organização escolar, Carolayne Barreto, 21, todas as suas funções no trabalho mudaram. Antes da pandemia, ela cuidava dos alunos e auxiliava em atividades da secretaria, agora, trabalhando em casa, as funções dobraram, realiza também serviços de apoio para alunos e organização das atividades escolares que são desenvolvidas por eles.

Carolayne ainda conta que sua adaptação ao home office foi bem complicada, pois não havia horário estabelecido para o desenvolvimento de tarefas, o que dificultou seu trabalho, pois, precisava ficar disponível todo o tempo.

”  Dá para resolver bastante assunto pessoal [em home office], mas meu celular virou praticamente uma extensão do meu corpo, onde eu vou ele está atrás com a internet ligada 24 horas esperando algo chegar.  “

Carolayne Barreto

leda

“Parece que estou falando com repolhos” diz professora Lêda sobre falar com alunos durante aulas remotas. (Foto: Cedida/Arquivo pessoal)

A professora universitária Lêda Márcia destaca que não foi fácil essa mudança repentina. “Em menos de dez dias, saímos do presencial e passamos para o ensino remoto que é uma modalidade diferente do EAD, a dinâmica é mais acelerada. Tivemos que incorporar muitas ferramentas novas no nosso cotidiano. Algumas que já existiam e outras que foram criadas pela universidade para a emergência daquela situação.

Eu fiquei bastante apreensiva com a possibilidade de não conseguir aprender as novas práticas, mas o tempo mostrou que foi um sentimento desnecessário. Todos os professores se reinventaram!”, relata.

Lêda afirma, de uma forma mais espontânea, como está sendo a prática de dar aulas online para seus alunos: “De verdade? Esquisita! Principalmente, porque a maioria dos alunos não ligam a câmera, então você fica falando com imagens estáticas. Às vezes eu tenho a impressão que estou conversando com uma horta de repolhos! Só que há aquela acomodação natural, né? Parecia mais estranho, no começo. Hoje já me acostumei.”

João Paulo Tilio em sua participação no quadro de esportes do Fronteira Notícias (Foto: Cedida/Arquivo pessoal)

TELEJORNALISMO A DISTÂNCIA

 Para o jornalista João Paulo Tilio, 29, no início da pandemia, a adaptação ao trabalho remoto foi complicada. “Minha esposa e eu, os dois de home office, em uma situação que a gente nunca imaginou que iria passar na vida, ter que trabalhar em casa. Então aquela adaptação a algo novo, sempre é um pouquinho complicado, em tudo na vida e não foi diferente dessa vez”, comenta.

Conforme a mudança na rotina de trabalho, João Paulo se adaptou para realizar as atividades em casa. O jornalista que apresenta um quadro de esportes no telejornal local da região de Presidente Prudente, mesmo em home office continuou fazendo participações por meio de vídeos gravados de sua residência. “Então, na televisão, lá na emissora, eu estava acostumado a ter o meu computador e, na hora dos jornais, eu ia lá para participar no estúdio. Aqui em casa não, eu tinha que gravar o vídeo, aí eu tive que começar a pensar no áudio, no enquadramento, na iluminação, em muitas coisas novas que eu não estava acostumado a pensar antes.” No início ele teve dificuldades, porém, com a prática, acostumou-se com as participações feitas a distância.

Entre outras mudanças na rotina, Tilio destaca a locomoção. “O carro passou a ser pouco usado e você não tem mais o horário de deslocamento, como algo a mais a ser pensado. Você está em casa, você começa a trabalhar naquela hora determinada”, lembra. 

O jornalista ficou cinco meses em casa e sentiu falta do contato presencial com os colegas de trabalho. “Quando eu estava no estúdio, eu tenho sempre um apresentador ali comigo, então digamos que, mais do que trazer uma notícia, aquilo ali acaba sendo uma conversa, um diálogo, um bate-papo e a gente sente o telespectador perto de nós, ali com todas as câmeras. Enfim, aquilo se torna um grande diálogo.”

Após a difícil adaptação ao distanciamento social, Tilio voltou para sua antiga rotina, seguindo todas as medidas de segurança. “Foi uma alegria muito grande voltar a trabalhar presencialmente.”

Por ter um ambiente próprio para produzir as notícias na emissora, mesmo se adaptando ao trabalho remoto, ele prefere o presencial. “Foi bem bacana poder voltar e o estilo de trabalho é bem diferente, de estar em casa e estar na emissora!”, finaliza.

O mundo do trabalho parou?

Thiego Souza

Não parou, o mundo continua em seu curso normal e nossas vidas também. Temos a impressão de tudo ter parado em razão da mudança, mas na verdade é um novo padrão de vida, imposto de forma coercitiva. Para algumas atividades, que há muito tempo precisavam ser revistas, foi até bom; enquanto para outras, trouxe uma nova perspectiva.

Carolayne Barreto

Pelo menos pra mim o mundo não parou, só mudou muito e acelerou.

 Lêda Márcia 

Uma parte parou. Outra se adaptou. E uma terceira parte trabalhou de modo clandestino.

João Paulo Tilio

Na minha opinião não, o mundo do trabalho não parou. E nem dá para parar, a gente precisou se reinventar, acho que é a palavra que melhor reflete esse momento. No  jornalismo esportivo, nós mudamos bastante o foco da cobertura, porque o momento pediu isso. A gente estava acostumado a mostrar atletas treinando, times jogando e toda aquela rotina de um atleta, do esporte em si, e a gente teve que mostrar como a pandemia estava afetando a vida deles e também buscar outras histórias.

Por: Evandro Marques, Julhia Marqueti, Regina Santos, Rodrigo Moraes e Thais Vizary

FOTORREPORTAGEM URBAN CAFÉ 

No dia 10 de setembro de 2020, durante a fase amarela no plano de flexibilização do plano São Paulo, foi documentada como está sendo a adaptação da rotina de trabalho da cafeteria Urban café,  localizada na Avenida Quatorze de Setembro, no Jardim Paulistano, Presidente  Prudente – SP.

Criada por volta de dois anos, a cafeteria tem como proprietários um casal  e  quatro funcionários e nenhum dos funcionários foi demitido durante a pandemia.  Bruno Basso, um dos donos, conta que antes da pandemia,  trabalhavam com delivery e consumo no local. No início da pandemia, fecharam suas portas e começaram a trabalhar somente com delivery (Ifood e Uber Eats). Após a flexibilização do comércio, voltaram a trabalhar com consumo no local, retirada e delivery, porém, com horário reduzido. “A ideia surgiu com a Débora, minha noiva, que foi fazer um intercâmbio e descobriu que existiam várias cafeterias lá fora, que era um ramo que estava em ascensão lá fora e a gente quis criar, já que sempre gostamos, ela principalmente.”

Bruno, é formado em direito e Débora em  administração,  porém, para Bruno “A Urban virou nossa vida, nossa rotina, a gente tem ideia de expandir no futuro, quando isso melhorar, e abrir novas unidades, acho que é um modelo de negócio que deu certo para a gente”. 

Antes da pandemia, o estabelecimento funcionava das 8h  às 20h, porém, por conta das novas regras de funcionamento para bares, restaurantes e similares, o Urban adequou seu horário de funcionamento, sendo, de terça a domingo das 9h às 17h consumo no local e para os clientes que prefiram pedir pelos aplicativos Ifood, Uber Eats ou retiradas, o expediente se entende até às 18h30.

ADAPTAÇÃO 

Para o Urban café, o mundo do trabalho não parou “Quando estourou a pandemia, a gente decidiu fechar, porque temos pais que são de mais idade, então fechamos as portas e organizamos o salão para tornar um negócio mais de delivery mesmo, a gente já tinha entrado no aplicativo Ifood.” Bruno comenta, que mesmo em meio a pandemia, conseguiu manter os quatro funcionários.  O proprietário, conta que a principal dificuldade enfrentada, foi, por ter criado um negócio presencial que teve que se sustentar apenas com o delivery. 

Quanto a mudança na rotina, toda a equipe se reorganizou, “todo mundo hoje meio que mudou os horários deles, antes abria às 8h e fechava às 20h, agora, com a pandemia, a gente começou a abrir 11h, porque o Ifood abria às 11h até às 18h, tem que respeitar o máximo de horas aberto.” 

 

Por: João Paulo Hercolino, Natália Feitosa, Pamela Lourenço e Richard Magalhães​

PODCAST - ADVOGADA TRABALHISTA ESCLARECE DÚVIDAS SOBRE A ÁREA

VÍDEO | como a pandemia afetou a rotina de trabalho do thêre estúdio de beleza

Os integrantes do grupo foram até o Therê Estúdio de Beleza, observaram a nova rotina de trabalho em contexto de pandemia e colheram depoimentos da maquiadora e gerente Giuliana Lanfranchi e da proprietária Tereza Lanfranchi.

Repórteres: João Paulo Hercolino, Natália Feitosa, Pamela Lourenço e Richard Magalhães.

Infográficos: Natália Feitosa e Pamela Lourenço

Fotografia: Natália Feitosa 

Áudio: João Paulo Hercolino, Natália Feitosa, Pamela Lourenço e Richard Magalhães.

Cinegrafia: Natália Feitosa e Richard Magalhães. 

Edição de textos: João Paulo Hercolino e Natália Feitosa 

Edição de vídeo: Natália Feitosa e Richard Magalhães.

Edição de imagens: João Paulo Hercolino, Natália Feitosa, Pamela Lourenço e Richard Magalhães.

Layout da reportagem: Natália Feitosa

Edição final e supervisão: Fabiana Aline Alves

Por: João Paulo Hercolino, Natália Feitosa, Pamela Lourenço e Richard Magalhães

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